Analiso demais as coisas que fiz ao longo de minha existência - aquelas que eu me lembro, é claro - e o que sou. Minha autocrítica me fez crescer e conquistar tudo que tenho. O apelo sentimental nunca foi meu forte; tenho medo e sou insegura. Meu coração é guardado por setes chaves difíceis de serem abertas e as perdas notáveis só me são clareadas agora.
Minha ferida, uma bola de neve, expulsa sangue para que eu a sinta. Em minha nítida forma humana - orgulhosa - reconheço, humildemente, que a ferida é suportável e tediosa até o dia em que fura a pele e fica aparente. A fratura exposta é tão grande que meu choro nada mais é do que a dor física conjunta a dor da consciência.
É aí que temos que procurar um médico para sanar as dores. Os plantões são escassos e espero quietamente na fila até chegar minha vez. Situações desesperadoras pedem medidas desesperadas. O remédio apenas alivia a dor e coagula o sangue exposto. Mas a ferida permanece lá, sensível ao menor toque.
Plenamente curada sei que talvez nunca esteja. Há dois caminhos difíceis que a cura envolve: a cicatrização seguida de aceitação e esquecimento. Não sou forte o bastante para esquecer minhas dores e o arrepio que sinto ao tocá-las é suficiente para querer entender o motivo de tal ferida. Paro no meio de minha própria explicação. Reavalio, mas a plateia está vazia. Talvez quando eu me reerguer - isso não demorará muito, creio eu - voltarei a ocupar salões inteiros de gente querendo me ouvir.
Uma pequena nota por Marô Dornellas:
Meu coração é um músculo involuntário.
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