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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sirene de ambulância.

Há uma coisa que me faz tremer na base: barulho de ambulância. Tal sonido desperta em mim um misto de medo e irritabilidade extremamente singular. Odeio-o.
Por azar, moro no começo de uma rodovia de acesso às rodovias grandes, ou seja, palco de acidentes seguidos de ambulâncias em série. Não há sequer uma semana no mês que passamos sem acidentes e barulhos estridentes. E mais, em qualquer lugar da casa o barulho é notável e mesmo a alguns quilômetros de distância ainda é possível ouvi-lo.
Ouço-o e desconcentro-me instantaneamente de tudo que estava fazendo. Me sistema de fuga-luta me avisa na hora que é para correr que alguma catástrofe aconteceu. Quero notícias rápidas. O que aconteceu? Houve mortes? Quem estava lá?
Me agustia não saber em primeira mão do acontecido e se há amigos feridos. Sinto necessidade de ir lá e ajudar a resgatar. Mas não posso, tenho medo de sangue, desmaiaria se visse alguém sangrando. Tenho que sentar e esperar. Fico olhando da janela da sala pra ver se a ambulância volta e tentar ver pela janelinha o que se passa lá dentro.
Tenho aflição de quando ela volta com a sirene desligada. Se isso acontecer, está tudo consumado. Não há esperança ou massagem cardíaca que traga de volta à vida o ferido. E não há nada que possamos fazer.
O meu medo e irritação por sirenes de ambulâncias é justamente esse: não poder fazer nada. Não estava no acidente, não vi o ferido, não liguei para a emergência e não vou poder ajudar a resgatar. Tenho apenas que ficar em casa esperando por notícias, rezando para que não tenha feridos ou que a catastrófe não tenha sido grande demais.
Mas não me contento em olhar e esperar, tenho síndrome de "Maria Capitolina". Quero sempre fazer algo, me mexer e tentar ajudar. Porém, às vezes eu quero ajudar mais aos outros do que a mim mesma, o que acaba sempre em problemas tão graves quanto o acidente em si.
Não há como escaparmos de catástrofes e não há como prevê-las (pelo menos, em sua maioria). Tudo que podemos realmente fazer é rezar para que Deus tenha piedade de nós e que nos deixe viver um pouco mair.  Há acidentes todos os dias, a diferença é que nem sempre há barulhos estridentes para nos avisar que algo aconteceu. Só espero que a próxima ferida não seja eu e caso for, que o resgate venha rápido.

sábado, 21 de setembro de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte VIII

O encontro com Kiko Arguello-Parte 1

Partimos cedo. Nos disseram que da Ilha do Governador até o Rio Centro - local do encontro - seriam três horas de ônibus. Por sorte, nosso motorista conseguiu cortar caminho por uma favela; chegamos em menos de uma hora, antes dos portões serem abertos. Fomos uns dos primeiros a entrar e conseguimos lugar de honra: cerca de 5 metros do palco, dava pra ver tudo com muita nitidez. Deus nos havia dado aquele presente.
Mas, como bons caipiras do interior, entramos do lado errado do Rio Centro e estávamos no local destinado aos estrangeiros. Como o local lotou (esperavam 40 mil; vieram 100 mil catecúmenos), pediram que os brasileiros gentilmente cedessem seus lugares aos estrangeiros e a bem da verdade a maior parte obedeceu, mas nós, astutos, abaixamos as nossas bandeiras e ficamos petulantemente ali, fingindo que não havia uma bandeira do Brasil na nossa camiseta e que não falávamos português (essa parte foi realmente engraçada). Sei que o Caminho nos cobra fortemente a obediência, mas não me levem à mal,  nós já tínhamos passado por muitos perrengues e estávamos muito perto do palco; ver o Kiko de perto era realizar um sonho, em, talvez, uma oportunidade única.
Desobedecemos o padre. Ficamos sentados no chão do Rio Centro exatamente do começo ao fim; eu, pelo menos, resisti à tudo pois não queria perder nenhum segundinho ao lado do meu amado. Serviram-nos um kit lanche/almoço que foi simplesmente tudo de bom!! Nunca gostei tanto de comer pão com presunto e mussarela e maça de sobremesa! Esperávamos ansiosamente.
Kiko Argüello é um jovem de 74 anos que em 1964 iniciou o "Caminho Neocatecumenal" pelas favelas de Madri, junto de Carmen Hernández e Padre Mario Pezzi. O Caminho Neocatecumental é a chamada "nova evangelização" que busca intensamente viver o batismo, a experiência concreta de ser cristão. Sou suspeita para falar do Caminho, amo-o. Nasci, cresci e amadurei em meio ao catecumenato e ali dentro aprendi valores como o amor, o respeito e, sobretudo, a obediência. O Caminho me fez ser alguém melhor, menos fútil, menos materialista e mais firme nas minhas decisões. Somos constantemente cobrados acerca daquilo que aprendemos, às vezes repreendidos, mas não tenho a menor dúvida que tudo vale à pena, pois o Caminho cada vez mais se mostra maravilhoso a mim. Na Jornada ficou muito claro que se eu não tivesse tido essa educação rígida (que permanece) e se eu não estivesse dentro da Igreja  - sobretudo dentro do Caminho - eu com certeza estaria perdida, sem rumo. O Neocatecumenal me mostrou qual era o caminho certo, me mostrou a minha vocação, me deu amigos incríveis e uma família sensacional. Eu certamente descreveria um monólogo sobre a minha história e amor pelo Caminho Neocatecumenal, farei-o em outra ocasião pois hoje tentarei deter-me no dia 30/07/2013.
Kiko saudou-nos exatamente às três da tarde, conforme estava escrito no roteiro. Esperávamos por ele desde às 10 da manhã; foi com grande euforia que o recebemos. Assim como o Papa Francisco, Kiko Argüello veio simples, trajando sua costumeira roupa de itinerante: a calça social e o suéter preto, indiferente ao calor que fazia no Rio Centro, e trazendo, apenas, seu violão, já bem surrado pelos anos de evangelização. Nada nesse mundo paga a alegria e emoção de ver o sorriso daquele homem. Ele acenava por todos os cantos, procurava olhar nos olhos e nas bandeiras de cada um ali presente.
Kiko agradeceu a acolhida, agradeceu ao Brasil, ao Rio de Janeiro e a Dom Orani - nosso conterrâneo idealizador da JMJ. Em seguida, como de praxe dentro do Caminho, apresentou todos que estavam presentes ali: ele chamava os países e estes se levantavam e gritavam, mostrando presença e suas respectivas bandeiras (tradição catecúmena). Era arrepiante ver que estavam presente, realmente, catecúmenos de todas as nações, desde aquelas em que o Caminho é maioria - Itália e Espanha - até aquelas onde os cristãos são a minoria - como na China e no Oriente Médio. Sim, temos catecúmenos nas China e em países árabes!! Que orgulho saber que somos muitos e estamos por toda parte!! Que alegria ver todos os irmãos catando a uma só voz os mesmos cânticos, vivendo o mesmo ideal de vida e professando a mesma fé, em qualquer idioma. A alegria de dias como estes de Jornada Mundial da Juventude é indescritível, não consigo por em palavras o que eu sentia ali. Fui contagiada pela alegria que emanava de jovens tão loucos quanto eu, tão sedentos por uma palavra quanto eu e tão orgulhosos quanto eu de fazerem parte do Caminho.
Era tudo contagiante. Para finalizar, Kiko chamou os brasileiros e, claro, a festa foi gigante: ao somo de "eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" o Rio Centro inteiro mais o pessoal que acompanhava lá fora pelos telões se levantou, agitou bandeiras, gritou muito, pulou, dançou..e não só nós brasileiros, mas todas as nações se levantaram e gritaram junto com a gente. Enchia o peito de emoção.. e os olhos de lágrimas. Impossível que tenha uma só pessoa que naquele momento não sentiu um orgulho gigante de ser brasileiro!! Somos contagiantes por essência, somos receptivos, fazemos festa com tudo!! Me alegro e me orgulho muito de ter feito parte daquele momento, nunca me emocionei tanto ao agitar a bandeira do meu país.
Kiko também se emocionou e agradeceu novamente a calorosa recepção. Em seguida, ensinou-nos o canto novo, o canto que ele havia preparado para a Jornada Mundial da Juventude do Brasil e, como ele mesmo disse "quando vocês ouvirem esse canto em suas comunidades, se lembrarão para sempre desse momento, é o canto que marca a JMJ do Brasil". Nosso canto é o "Ressurese", lindo e brilhantemente orquestrado; foi um canto feito para emocionar! O canto diz que "Cristo ressuscitou, Cristo vive" e esta passagem foi muito forte nessa peregrinação! Cristo esteve presente ao nosso lado em todos os momentos, nos ajudando a cada dificuldade! Confesso que dentre os cantos feitos para peregrinações há outros mais bonitos e com mais história, mas o nosso é verdadeiramente a cara do Brasil: simples, alto e emocionante. Não há nenhum outro canto no Caminho que tenha ganho uma orquestra tão bem trabalhada como este!
Nações e canto apresentados, o encontro propriamente começou com a entrada e benção de Dom Orani, Arcebispo do Rio de Janeiro e natural de São José do Rio Pardo, a minha cidade. Kiko ia constantemente à estante, cantava, falava e gesticulava por todos os lados. Todos os cantos me emocionaram muito e até aqueles que eu não gostava tanto passei a olhar com mais atenção. Diga-se de passagem que ele não apenas cantava, mas dava uma mini catequese sobre cada canto, explicando-os desde a sua origem. Confirmei minha suspeita: não há nada no Caminho que não tenha um forte significado.
Me emocionei logo no canto de entrada: "Yo vengo a reunir" é o canto-símbolo das peregrinações, eu estava tão ansiosa para ouvir que cantei junto em portunhol mesmo, era lindo de qualquer jeito!!! Realmente, todos que se dispuseram a ir viram a glória de Deus, e bem de perto. A tradicional invocação do Espírito Santo antes das celebrações catecúmenas foi feita à capela, por 100 mil pessoas.. tentem imaginar a emoção e a altura que foi isso!! 100 mil pessoas cantando, verdadeiramente, à uma só voz!! Deus havia nos presenteado com momentos inesquecíveis naquele dia.
Em seguida, pra mim, foi um dos grandes momentos da JMJ: a entrada de Nossa Senhora da Penha (uma imagem lindíssima!!) ao som de "Um grande sinal" - o canto da Jornada de Sidney, em 2008, na Austrália. Foi um momento tão grande quanto a passagem do Papa para mim pois havia ouvido a mini catequese da minha mãe sobre a entrada de Nossa Senhora nos encontros catecúmenos (essa é uma das vantagens de ser filha de catequistas!) e lembrei instantaneamente de tudo que ela havia me dito dias antes de viajar. Minha mãe sabe das coisas e disse que era para eu  ão me esquecer de pedir alguma coisa à Virgem, que qualquer cosia que eu pedisse naquele momento ela me atenderia. Hoje tenho total certeza que ela cuida do meu pedido e vai realizá-lo quando for a hora certa. Foi o único momento na JMJ em que algumas de minhas lágrimas cairam; enxuguei-as rapidamente pois aquele era um momento de alegria. Maria entrava, me trazia conforto e enchia o meu coração do carinho de uma Mãe que estava presente para interceder por seus filhos. Aprendi que Maria é a maior advogada que temos e que intercederá para que o melhor nos aconteça.

sábado, 7 de setembro de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte VII

O presente chamado Renata.

Saímos  de Copacabana por volta das 11:30 da manhã. Estava no momento da comunhão; não comungamos naquele dia pois era preciso juntar a turma e partir. Nossos catequistas tinham medo também e prezavam pelo bem da maioria. Ou íamos embora naquela hora ou só conseguiríamos sair de Copacabana à noite, o que seria perigoso, afinal de contas, não se brinca na noite carioca. Confesso que recebi a notícia com grande pesar, por mim eu passaria, sim, o dia ali com o que havia sobrado do Kit Vigília e veria todas as apresentações ao final da missa, queria aproveitar cada segundo da minha JMJ. Porém, quando se está em um grupo grande e sobretudo se esse grupo for catecúmeno, deve-se obediência aos seus catequistas. Na Jornada não tinha dessa de metade vai e metade fica, ou era todo mundo ou não era ninguém - foi assim o tempo todo, não nos desgrudamos por um segundo. Teve momentos em que renunciar a própria vontade pela vontade dos superiores ou da maioria doía, ainda mais pra mim, mas era necessário e era preciso, também, fazê-lo sem murmurar.
Por sorte conseguimos encontrar o metrô funcionando e evitar mais uma grande caminhada. Foi a primeira vez que andei de metrô na minha vida e confesso que foi muito muito muito louco!! Encontramos no metrô um grupo de chilenos, não dava para saber se era o mesmo que esteve em São José durante os preparativos da Jornada, mas sei que entoavam o já famoso hino "Chi, Chi, chi.. Le, Le, Le.. Viva Chile!!", O metrô tremia ao som dos chilenos. A cidade do Rio de Janeiro certamente nunca havia visto nada igual e certamente não se esquecerá de momentos como esse.
Um metrô, um ônibus e uma pequena caminhada e estávamos novamente na Ilha do Governador, no alojamento da Paróquia que nos recebia. Primeira providência quando chegamos: tomar banho, afinal de contas já fazia dois dias que não fazíamos isso e era de extrema urgência. Para nossa surpresa, nosso voluntário avisou-nos que não haveria banho para todos pois a água estava acabando e, além de nós, estavam alojados também outros grupos de peregrinos. Era inacreditável que depois de tudo que estava acontecendo na minha vida eu teria outra provação. Acho que Deus estava me testando mesmo.
Depois da indignação chegou a hora de decidirmos o que fazer. Não hesitamos: saímos em busca de casas perto da paróquia que nos cedesse um chuveiro. Nos negaram na primeira, mas na segunda, uma casinha simples entre os prédios da Ilha, estava disposta a nos acolher. Conhecemos a Renata, o anjo que Deus havia preparado para nós naquela Jornada.
A Renata é uma mulher extremamente simpática e carinhosa, que não teve o menor medo de acolher peregrinas que ela sequer conhecia. E por obra do destino, Deus nos enviou a uma família que não frequentava a paróquia porém, com muito mais disposição do que os paroquianos. A Renata fez o que minha mãe faria por mim: nos deixou tomar banho (estávamos em 5), fez um bolo de chocolate - maravilhoso - e nos chamou para passarmos a noite ali, dadas as histórias que contamos.
Eu me senti verdadeiramente em casa; tinha cama, comida, minha irmã de sangue e minhas irmãs de fé e pessoas maravilhosas que Deus havia me enviado. A Renata tem uma filha linda, a Duda, que muito me lembrou de mim mesma em seus gestos e ações. Jantamos pizza, vimos o Papa na tv, pude usar finalmente a internet e deixar um recado aos meus conterrâneos.
Foi uma das melhores noites da minha vida. Sem luxos, sem maquiagem, sem cabelo escovado e sem Louboutin. Mas, eu tinha tudo junto de mim: o amor de Deus, a sua misericórdia para comigo que, mesmo pecadora, Ele não deixou de estar ao meu lado e me mostrar, mais uma vez, que quando confiamos em Sua palavra o melhor nos irá acontecer.
Me alegro muito por ter conhecido a Renata e toda a sua família: o Diego, a Duda e a Milena que passava um dias lá. Foram realmente anjos. Nem sei mais como agradecer por tudo que fizeram por nós naquela noite!! Jamais me esquecerei da acolhida, simples e especial!! Espero vê-los novamente em breve. Que Deus sempre os abençoe.
Dormimos bem, comemos bem e agrademos à Deus e à Renata por aquela acolhida. Foi difícil ir embora dali, mesmo com todos os problemas que tivemos no alojamento, Deus havia nos cumulado de bençãos e alegrias. Partimos cedo para o Rio Centro, onde nos encontraríamos com Kiko Argüello, Carmem e Padre Mário, os inciadores do Caminho Neocatecumenal, juntamente a 100 mil catecúmenos tão loucos quanto eu.