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sábado, 31 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte VI

"Eis que eu os envio"

Depois daquela ida ao banheiro consegui que meus cochilos durassem mais que 10 minutos. Deus havia me aquecido e me dado ânimo novo. N[os estávamos usando nossas capas de chuva; não chovia, mas disseram que isolavam do frio. Isolava pouco a bem da verdade, mas usávamos tudo que podíamos. Mas noite, enfim, terminou. Acordei com o dia amanhecendo; estava azul e aquele seria um dia lindo. Nós fixamos na grade de isolamento exatamente as 6:40 da manhã pois queríamos garantir um bom lugar para a próxima passagem do Papa Francisco que aconteceria exatamente às 10 da manhã. Os paraguaios dormiam ali e nós ficamos entre os sacos de dormir deles disputando cada pedacinho. Depois daquela noite, nada poderia dar errado.
Foram mais de três horas em pé na grade espremida por paraguaios que gritavam o tempo todo. Nesse meio de tempo conhecemos um sargento do Rio Grande do Sul que foi muito simpático com a gente e nos contou detalhes de sua profissão e explicou porque haveriam militares e voluntários fazendo cordão de isolamento naquela manhã. Confesso que não gostei do excesso de segurança pois colocaram a grade um pouco mais para trás e eu queria muito conseguir tirar uma foto nítida do Papa. Mas regras são regras e sei que os voluntários ralaram muito para que nada de errado acontecesse.
Eis que Francisco novamente veio junto de nós, pontualmente às 10 da manhã, no seu papa móvel sem vidros, na sua alegria contagiante e nos seus acenos eloquentes. Gritei muito e vi o Papa olhando e acenando novamente para mim. Me senti abençoada. Coloquei minha vida em suas mãos, para que ele intercedesse junto ao Pai pela minha vida e pelo meu futuro. Tenho certeza que ele ouviu minhas preces e está cuidando para que o melhor aconteça em minha vida. Tenho total convicção disso pois hoje tenho certeza que quando a gente pede muito e pede de verdade, com todas as nossas forças e com todo o nosso coração e tem fé que vai dar certo, não tem jeito de dar errado. Mesmo quando a gente acha que não vai aguentar, que a cruz é pesada demais e que vai morrer de fome ou de frio, Deus vem em nosso socorro e nos mostra o seu amor por nós. Ele conduz a minha vida e tenho certeza que não preciso de regente melhor. Deus me mostrou fortemente o seu amor e misericórdia por mim nessa Jornada Mundial da Juventude. É bem a velha das peregrinações: a gente sofre e vive de perrengue, mas no final Deus nos surpreende.
E olha que ainda havia muita coisa para acontecer depois da passagem do Papa.
Não consegui uma foto nítida pois estava emocionada e a cabeça de uma voluntária infelizmente era mais alta do que eu. Mas sem problemas, fotos do Papa estão espalhadas pela internet. A sensação do "estar lá" de que tanto ouvi falar antes de ir, realmente é a maior verdade. Não adianta a gente ouvir as histórias dos amigos que já foram, não adianta a gente ler tudo que puder sobre a JMJ; o que vale é estar lá e viver tudo isso, sentir na pele o sofrimento e a emoção. Não há nada que se compare ao momento de ver o Papa passando na sua frente e te abençoando e é justamente por esse momento que disse, ali mesmo no Rio de Janeiro: "estarei na próxima Jornada Mundial da Juventude".
Não chorei quando o Papa passou, gritei muito e meu coração pulsava forte. Aliás, os paraguaios que estavam atrás de mim também. Era uma festa de várias nações. Durante todo o trajeto do papa móvel se cantava "esta é a juventude do Papa!". Estou com saudades disso.
A missa de envio começou pontualmente às 10:30 da manhã e a abertura foi o flash mob - o maior da história. Nesse momento estávamos indo perto de um telão e consegui acompanhar a coreografia; eu e as meninas ensaiamos o flahs mob antes de viajarmos mas na hora eu não lembrava de quase nada. Deu para enrolar e imitar bem os que sabiam dançar direitinho; confesso que foi até engraçado e que amei ter feito parte do maior flahs mob da história! Hoje estou apaixonada na música e danço em casa. Que alegria poder ter encontrado papa Francisco!!
Conseguimos um espacinho para acompanhar um pouco da missa pelo telão e quanto mais andávamos mais bandeiras diferentes eu via. Estava tudo lindo: a praia tomada, o sol quente e o céu e o mar azuis. E ah, que lindo o mar de Copacabana!!! Sei que sou suspeita para falar porque amo praia, mas a de Copacabana é realmente tudo o que a televisão fala!! É azulzinho, limpo, calmo!!!!!! Me joguei na água de roupa e tudo, afinal de contas eu não perderia aquela oportunidade nunca!! Reclamava de saudade do mar e Deus me deu uma chance de poder vê-lo durante a JMJ!! É revigorante estar de frente ao mar.
Dali das límpidas águas de Copacabana pude ouvir em alto e bom som a homília do Papa Francisco que dizia exatamente o seguinte "Não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho, a sua fé. Não tenham medo! Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa  frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: 'Eu estou com vocês todos os dias. E não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor". E aqui missão dada é missão cumprida!! Papa disse que é para não termos medo que Deus estaria conosco todos os dias de nossas vidas! Foi a palavra certa, no momento certo! Me senti muito mais tranquila ao ouvir isso pois senti, de novo, que Deus é o senhor da minha vida e que Ele a está conduzindo da melhor forma possível. Voltei da JMJ com isso na cabeça: sou enviada pelo Papa a anunciar o evangelho e não vou deixar que ele morra dentro de mim. Quero que todo mundo saiba o que eu senti e que tenha a oportunidade de ver o quanto Deus ama a cada um de nós. Ele nos ama como filhos, do jeito que somos e quer fazer uma história belíssima para todos nós, basta que deixemos, basta que sigamos os seus ensinamentos.
"E olhai que eu os envio como ovelhas entre lobos. Sedes prudentes como serpentes e simples como as pombas. Não leveis bolsas nem dinheiro, e acreditai que o reino está perto, Cristo ressuscitou e ele vem conosco, ele vem conosco!". Meu canto preferido da JMJ se cumpriu verdadeiramente.

domingo, 25 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte V

A madrugada fria da vigília.

O Santíssimo Sacramento ficaria exposto a noite toda no Palco de Copacabana em um belo ostensório, grande e dourado. O Papa deixou o Palco com a promessa de voltar no dia seguinte durante uma apresentação de dança. Ainda tiveram outra apresentações e um ensaio para o flash mob; não os vi pois precisava voltar para junto do grupo pois era tarde e a fome e o frio falavam mais alto.
Nós não tínhamos levado nada para passar a noite ali: não tínhamos comida, não tínhamos agasalhos suficientes, deixamos o saco de dormir e a lona no alojamento da paróquia e tão pouco tínhamos cobertas para nos aquecer. Contávamos apenas com a providência de Deus pois não tiraríamos os pés dali em hipótese alguma.
Mas Deus não nos abandonou em nenhum momento daquela noite. Os meninos conseguiram chegar a tempo de conseguir pegar kits vigília para todos e não tiveram problemas em pegar conduções na noite carioca. Isso significava que todos estavam bem e teríamos alimento para os dois dias. Para mim, que vivo morrendo de medo de ter uma crise de hipoglicemia, foi com grande alegria que recebi esta notícia; Deus havia nos providenciado uma caixa cheia de mantimentos.
Os telões haviam sido apagados e o frio começava a apertar; eu tinha apenas uma camiseta de manga comprida e uma blusa de frio fina; não estava preparada para a madrugada fria que viria. Aliás, nem eu nem o nosso grupo.
O cansaço era grande e acredito que não somente a mim; havia pessoas acampadas ali há alguns dias e sob frio mais intenso. Me disseram que na noite da vigília alguns optam por não dormir e virar a noite cantando e dançado; eis que a profecia se cumpriu. Havia um grupo de catecúmenos eslováquios perto de nós que cantava e dançava; havia um grupo de brasileiros que percorreu a praia inteira a noite toda cantando "se eu não durmo, você não dorme, Jesus ressuscitou". O corpo estava realmente exausto, mas a mente conseguia controla-lo e aguentar muito mais.
Eu não percorri a praia toda cantando e não entrei na roda dos catecúmenos eslováquios. Me limitei a ficar juntos dos meus irmãos e tentar dormir. Cochilei algumas vezes. A sirene da ambulância e o frio intenso não deixavam que os meus cochilos durassem mais que dez minutos. O frio era tanto que eu tremia, meus dentes rangiam involuntariamente; não tinha como controlar. Nós estávamos em umas 6 ou 7 meninas abraçadas e enroladas nas nossas bandeiras do Brasil (sim, o nacionalismo era geral!). No caso, eu e a minha irmã dividíamos a nossa bandeira; nós nunca havíamos ficados tão juntas como naquela noite. Uma bandeira nunca havia sido tão bom cobertor quanto antes. Nunca agradeci tanto a Deus por não estar sozinha.
A nossa sorte foi ter levado as sombrinhas que, além de nos proteger da chuva da caminhada, nos protegeram - pelo menos um pouco - do frio que fazia ali. Se você tentar imaginar a cena, tenho certeza que vai rir, mas na hora do sufoco vale tudo. Sorte também que tínhamos chegado tarde e a praia estava lotada pois se estivéssemos na praia não iríamos dar conta do frio. Sim, muita gente ao nosso lado passou mal por causa do frio mas, graças a Deus, ninguém do nosso grupo teve problemas.
Para mim um momento forte naquela noite foi por volta das 4 da manhã quando eu e umas amigas fomos procurar por um banheiro. Havia pouquíssimos banheiros na praia, os postos de atendimento tinham filas gigantescas e havia apenas dois banheiros químicos beeeem espaçados, com filas quilométricas. Não tinha condição de ficar ali, fomos tentar a sorte e pedir que os bares e hotéis nos deixassem entrar, de preferência sem cobrar nada. Nós conseguimos boates, na primeira nos cobraram 5 reais (absurdo, moço, somos peregrinos!) e na madrugada nos deixaram entrar sem pagar. Fiquei feliz de conseguir um banheiro, bem dizem as anedotas da internet que peregrino de verdade reconhece o valor de um banheiro!
Foi justamente na boate em que conseguimos entrar sem pagar que eu entendi o que estava acontecendo. Enquanto eu estava vivendo uma Jornada Mundial da Juventude havia pessoas que a ignoravam, que não conheciam o amor de Deus. Foi ali na fila do banheiro o momento em que mais rezei naquela madrugada: agradeci a Deus pela minha família, pela oportunidade de estar em uma família cristã e catecúmena que me mostrou o melhor lado, feliz por estar junto dos meus amigos e irmãos na fé. Não me importava em não ter luxos, em estar mal vestida, com os cabelos bagunçados, passando muito frio e andando na orla de Copacabana durante a madrugada procurando banheiro. Eu estava verdadeiramente em uma Jornada Mundial da Juventude e Deus havia confiado a mim - e a mais 4 milhões de jovens - a missão de ensinar o Rio de Janeiro a grandeza do amor de Deus. Rezei por aqueles que não conheciam a Deus e que Ele suscitasse naquelas pessoas o desejo de uma vida nova assim como suscitava em mim. Foi nesse momento em que a minha ficha caiu de verdade: às 4 da manhã na fila de um boate esperando pelo banheiro.
Eu tinha medo e Deus não me abandonou. Eu sentia frio mas ele me deu forças para aguentar. Ele me levou a uma boate cheia de gente que vivia tudo ao contrário do que eu vivia; ele me permitiu viver essas experiências para que eu crescesse e enxergasse que "a messe é grande e poucos são os operários" e eu me vi como operária, na minha fragilidade, no meu pecado, mas, ainda assim, operária da messe. E nunca havia me orgulhado tanto disso.
Minha catequista dizia na volta que à cada um Deus passa de um jeito: à Moisés passou em uma sarça ardente, à Elias numa brisa suave e à nós no frio de Copacabana. Não há comparação melhor que essa.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte IV

A primeira parte da vigília.

Depois de uma longa caminhada e de muitos sufoco, eis que o Papa Francisco havia passado diante dos meus olhos. A emoção de ver o Papa passando diante de mim é algo difícil de ser explicado, é um arrepio e um agitar de coração que eu nunca havia sentido igual. É único, é mágico! Espremer-me entre as pessoas para ver a sua rápida passagem foi para mim uma experiência de um filho que busca ardentemente ao pai, que quer vê-lo, quer tocá-lo, quer receber sua benção e sentir-se amado. O Papa Francisco passa realmente toda alegria e ternura de um pai que encontra seus filhos. Reitero, me senti abençoada e amada.
Foram 3 ou 4 segundos, o tempo exato dele olhar, abençoar e sorrir para mim.
Nós e os paraguaios ficamos ainda uma meia hora gritando o quase-hino da JMJ: "essa é a juventude do papa!". Nós todos, de todo cantinho do mundo, havíamos viajado muitas horas e sofrido um tanto para aquele momento! Era nada mais que surreal. Para completar, quando os seguranças vieram retirar as grades de isolamento, deixaram escapar que pela manhã o Papa passaria de novo! Foi nesse momento em que decidimos que dormiríamos ali mesmo, passaríamos fome e frio e ficaríamos plantados na grade até o Papa passar novamente. A vigília começava para nós.
Como estávamos longe do palco e não podíamos ter uma visão perfeita do telão mais próximo acampamos ali mesmo onde estávamos, na calçada em frente ao posto 2 de serviços gerais; não vi a vigília começar. Aquela, aliás, era a hora da janta. Tínhamos, apenas, o lanche que ganhamos no café da manhã que teria que durar até a tarde de domingo. Havia a possibilidade de pegarmos o kit vigília, uma caixa contendo alimentos que nos sustentariam até a tarde do domingo quando os tickets alimentação voltariam a funcionar. O único problema é que quando passamos pelo - único - ponto de retirada desses kits, ainda há 5 quilômetros de Copacabana, a fila era imensa e não podíamos perder todo aquele tempo pois a fila dava cerca de 5 voltas em uma avenida. Ao final da passagem do Papa, em momento de muita luz e inspiração, os meninos tiveram a em Copacabana para garantir nosso espaço na calçada.
Todos os homens foram buscar os kits e fizeram um esforço gigante para chegar no lugar a tempo e ainda carregar todos os kits de volta. Quem foi disse que foi uma verdadeira demonstração de solidariedade de todos. Eu fiquei na praia e minha tarefa era juntar, ou melhor, catar, todo papelão em bom estado que eu encontrasse pois essa seria a nossa cama naquela noite. No meio da tarefa eu e as meninas demos um jeito de assistir um pouco da vigília em um telão próximo de onde nós estávamos acampados. O que mais me chamou atenção nesse momento foi que as pessoas que estavam próximas aos telões e que provavelmente estavam acampadas na praia já há alguns dias, nos concederam passagem e ofereceram o seu pedacinho de lona para que nós, que não tínhamos absolutamente nada, pudéssemos nos sentar ali e também acompanhar a vigília. Eu não conhecia ninguém e só sabia de onde eram pelas bandeiras que carregavam, mas eu sabia de uma coisa: eramos todos irmãos em Cristo. Não havia disputa por melhores lugares, não havia xingamentos, egoísmo e não havia distinção de raça, nacionalidade ou dinheiro. Todos faziam seus esforços para que o outro também estivesse bem, que pudesse ver a vigília e que tivesse o que comer.
Eu, que sou extremamente egoísta com as minhas coisas, nunca havia passado por um experiência tão forte e concreta do chamado "abrir mão". Abrir mão da minha cama quentinha, da minha comida pronta na mesa, do meu banho quente e demorado, do meu banheiro limpo, do meu conforto, da minha individualidade, da minha vontade pela vontade geral e abrir mão do meu egoísmo. Deus realmente queria me mostrar que ser altruísta ainda é o melhor caminho e que existem, ainda, pessoas dispostas à isso! Me surpreendi ao ver a solidariedade e o amor de Deus imperando entre os peregrinos.
Voltando à vigília, consegui um lugar privilegiado em frente a um telão e ali pude ver grande parte dos acontecimentos daquela noite. Tive a graça de poder ver a linda oração do Papa Francisco, as apresentações de música e teatro em que amei ter visto Luan Santana cantando a oração de São Francisco e a apresentação de uma cantora norte-americana em uma musica emocionante chamada "Jesus Christ, you are my life" que aprendi a cantar nessa JMJ. Mas, o ápice da primeira parte da vigília foi a exposição do Santíssimo, um momento em que todos na praia ficaram em silêncio e de joelhos enquanto o Papa cingia o corpo de Cristo com incenso e, assim como nós, rezava.
Coloquei diante de Deus as minhas orações. Tenho certeza que Ele as ouviu.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte III

O sofrido e abençoado primeiro contato com Papa Francisco

Caminhamos muito para chegar a Copacabana. Enfrentamos frio, chuva, sol, calor, fome e sede. Depois de 6 ou 7 horas nessas condições, o cansaço pesou e estava difícil continuar. Alguns de nós já não estavam bem; precisávamos parar.
Achamos uma única churrascaria em Botafogo, há uns 2 ou 3 quilômetros da praia. Não foi o melhor churrasco da minha vida e o preço não estava incluído no orçamento peregrino, mas foi bom parar e finalmente, depois de dois dias, comer comida de verdade.
A comida reanimou; confesso que também estava cansada e ansiosa para chegar logo. Me parecia que quanto mais caminhávamos mais distantes ficávamos de tudo: distantes da vida que deixamos em nossa cidade, distantes dos problemas que encontramos na hospedagem e distantes, até mesmo, do que considerávamos como um limite. Eu não conseguia parar e pensar que eu estava vivendo tudo aquilo. Era cada vez mais surreal.
Outro grande momento da peregrinação (para mim, o primeiro dos três eventos mais emocionantes) foi o que aconteceu nos túneis de acesso a Copacabana. Estávamos na reta final e só precisávamos atravessar três túneis pequenos e virar uma esquina que já estaríamos lá. Me repudiou a ideia de estar dentro de um túnel no Rio de Janeiro mas, perante o meu medo e cansaço, Deus me proporcionou um momento único. Encontramos um grupo de peregrinos catecúmenos dos Estados Unidos e outro grupo de catecúmenos da Argentina e eles puxavam um canto chamado "Cântico de Moisés", uma adaptação do canto que os hebreus cantaram logo após terem atravessado o Mar Vermelho. Só cantamos este cântico na páscoa para lembrar o sofrimento que os hebreus passaram e, mesmo assim, deram graças a Deus. O canto diz que "minha força e meu canto é o Senhor, Ele é meu salvador, é meu Deus, eu o celebrarei"; da mesma forma que Deus os libertou da escravidão do Egito, Ele, aos poucos, nos libertava das nossas escravidões diárias e mostrava a todo momento a sua bondade conosco, não deixando que nos faltasse nada e nos reservando momentos únicos.
Foi emocionante porque dentro de um túnel o som se abafa e engrandece, emocionante porque cantamos em três línguas que professavam uma só fé; o gigante tremia ao som de vozes que buscavam em Cristo suas forças. O som dos quatro atabaques deixava tudo mais arrepiante ainda e, acreditem, se tem barulho, tem catecúmeno! Enquanto andávamos ali, encontrei ânimo novo e coragem. Era preciso renovar as energias pois o melhor ainda estaria por vir.
Nos haviam dito que só poderíamos chegar em Copacabana até as 17 horas porque depois desse horário os voluntários começariam a fechar as ruas de acesso para preparar para a chegada do Papa Francisco. Saímos da churrascaria às 16:50; teríamos, literalmente, que correr contra o relógio. Imagine a agonia de um grupo que caminhou um dia inteiro em busca de um objetivo e que este corria o risco de não ser realizado; nós entraríamos naquela praia a todo e qualquer custo, furaríamos qualquer bloqueio e chegaríamos o mais perto possível. Para nós, ali, não existia a possibilidade de não dar certo.
Deus, mais uma vez, mostrou sua infinita misericórdia e bondade. Conseguimos que um grupo de voluntário nos deixasse furar a segurança na segunda rua de acesso. Além de termos conseguido, estaríamos relativamente perto do palco. A praia estava completamente tomada por jovens peregrinos, em todas as direções, de todas as nacionalidades. Era realmente lindo presenciar aquilo.
Nos infiltramos no meio do povo até que conseguimos um lugar perfeito. Deus providenciou tudo aquilo à nós! Estávamos à cerca de meio metro da grade e naquele dia não havia seguranças e cordão de isolamento. O Papa estaria a, no máximo, um metro de mim. Inacreditável. Era 18:10 quando nos fixamos naquele lugar. O Papa viria às 19.
Foram 50 minutos de muita expectativa e oração. Eu esperei tanto por aquilo. Aliás, não somente eu mas 4 milhões de jovens aguardavam ansiosamente por aquele momento. Eis que Francisco veio: simples, sem milhares de seguranças, sorridente e quase saindo do papa móvel para abençoar a cada um de nós que estavam ali.
Foi naquele rápido momento em que o Papa, a figura de Jesus Cristo, esteve na minha frente e fez o sinal da cruz, me senti amada e abençoada; coloquei toda a minha vida nas mãos daquele homem, eu sabia que ele estava abençoando toda a minha vida e todas as orações que estavam guardadas em meu coração. Nós, ali, espremidos nas grades, gritávamos, em coro: "esta é a juventude do Papa". Sem medo, sem vergonha, em qualquer língua, emocionados, agitados, felizes.
Eis-me aqui, faça-se em mim segundo a Sua palavra.
Somos parte da maioria.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte II

As provações.

Não conseguimos ir para Copacabana na Via Sacra na sexta, estávamos muito longe e completamente perdidos no tempo e no espaço. Depois de alojados e jantados, foi a hora do banho. Já era noite e o sol que tínhamos pegado durante o dia já tinha ido embora. No alojamento não tínhamos muitos banheiro e estávamos em muitas pessoas. A nossa sorte e agonia foi ter conhecido um voluntário muito gentil que conseguiu convencer o padre da paróquia a nos deixar usar o banheiro da casa paroquial. Fiquei super feliz por não termos que encarar a fila e os banheiros já bem usado do alojamento. Minha felicidade culminou em banho gelado.
Após uma noite de viagem  e um dia tenso não foi difícil dormir naquela noite. Dormir no saco de dormir não é algo agradável, não é confortável e não faz bem para a coluna. Eu nem me importei com isso; dei graças a Deus por ter um lugar para estendê-lo e agradeci infinitamente à minha mãe por me ter feito levar um cobertor de casal.
A noite, afinal, terminou bem e quando o sol raiou eu senti que aquele seria o dia! Era sábado, o dia de finalmente ver o Papa Francisco!! Era o dia que começaria a vigília e eu estava feliz por isso. Pegamos outro kit, rezamos laudes no fundo na Igreja e exatamente às 9 da manhã partimos em direção à Copacabana. E nesse "partir" foi que realmente caiu a minha ficha que eu estava no Rio de Janeiro! Ficamos cerca de uma hora esperando um dos -apenas- três ônibus da linha peregrino que não estivesse extremamente lotado! E nesse meio tempo, cansados de esperar, a nossa turma se dividiu em grupos para tentar outras formas de transporte. Depois e uma hora, conseguimos que um ônibus parasse, lotado, mas entramos. Demoramos 40 minutos até a Central, onde supostamente pegaríamos um metrô. Quando chegamos o metrô já havia parado; teríamos que caminhar até Copacabana. Eu não tinha noção do quão longe era.
A questão dos transportes foi uma completa falta de respeito ao peregrino. Só podíamos pegar a linha peregrina, que contavam apenas com 3 ônibus que passavam espaçadamente e lotados. As vans de transporte interno do Rio, dessas que mostram nas novelas, era um meio rápido (apesar de caro!) de transporte pois sempre vinham vazias mas, infelizmente, o governo do Rio proibiu essas vans de circular próxima aos locais frequentados por peregrinos. Os metrôs eram menos caóticos e mais organizados, porém funcionavam até um certo tempo, até a lotação ou até o meio dia, quando nossos cartões de transporte não passavam mais. Isso sem falar que quando conseguíamos ter a graça de conseguir pegar um ônibus ou metrô eles já estavam cheios. Não sei como um ônibus conseguia transportar cerca de 150 pessoas em uma única viagem!
As ruas do Rio estavam tomadas de peregrinos. Às vezes chovia, outras aparecia o Sol; a caminhada foi longa, teve clima para todos os gostos. Caminhamos cantando, dançando, fazendo amizades. Às vezes com frio, com calor, com fome, cansados. À todo canto da cidade maravilhosa proclamava-se que Cristo é o Senhor da vida de milhões e milhões de jovens. E mais, proclamava-se em todos os idiomas, de todos os movimentos, de várias religiões. O meu cansaço não me dominou justamente por isso: eu não estava sozinha. Dentro de mim e de todos que estavam ali sofrendo com os 17 quilômetros, havia a certeza de que tudo ia valer à pena e a alegria que sentíamos era muito maior do quer tudo o que ainda pudesse acontecer.

sábado, 3 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte I

A Jornada Mundial da Juventude terminou oficialmente amanhã pra mim. Amanhã, sim, pois me despedirei da última turma de italianos que passará por minha cidade. Da 'Semana Missionária' até hoje, foram exatamente três semanas inteiramente dedicadas à Jornada. A preparação, conforme já dito muito neste blog, foi verdadeiramente de corpo e alma. A Jornada, em si, uma série de sofrimentos seguidos por doces alegrias. A acolhida dos chilenos, espanhóis e italianos foi realmente Cristo passando por essa cidade.
Quantos momentos únicos essa JMJ me proporcionou! Quantas revelações, quantas alegrias! É preciso registrar tudo, cada detalhe, descrever tudo pois quero me lembrar dessas 3 semanas com muita precisão. Farei uma série de textos contando a minha experiência na JMJ. Lá vai..

Os primeiros choques.

Era um começo de noite de sexta feira quando partimos para o Rio de Janeiro. Estava muito frio e o céu nublado. A mala, pequena, só levava itens de extrema necessidade; não podíamos nos dar ao luxo de levar metade do guarda-roupa, nem as melhores coisas que temos. O espírito de peregrinação começou aqui, foi difícil ver o tempo esfriando cada vez mais e eu com duas blusas de frio na mala.
Na saída, como de praxe, recebemos um benção no meio da rua de nossa Paróquia Santuário de São Roque, pedindo que o senhor acompanhasse a nossa viagem. O que foi fora do costume foi a carreata que nossos pais e amigos que aqui ficaram fizeram à nós! Percorreram todo o trajeto até a saída da cidade com as luzes ligadas e com as buzinas funcionando.A carreata foi a primeira emoção da viagem. Eu sentia que cada vez que as buzinas tocavam era o toque de apoio, saudade e desejo de estar junto que os nossos irmãos rio-pardenses mandavam. Obrigada por todo o apoio que nos deram, por todas as pizzas e rifas que compraram e venderam para que nós pudéssemos juntar dinheiro para ir! Todos estiveram em nossos pensamentos o tempo todo.
A viagem de 10 horas foi turbulenta. O ônibus era como uma sanfona, me estômago reclamava e a estrada nunca tinha fim. Foi difícil dormir essa noite.
Chegamos ao Rio de Janeiro por volta das 6 da manhã com o sol nascendo. Ver a cidade maravilhosa acordando foi lindo. O sol nascia numa mistura de amarelo com rosa tão linda, nunca tinha visto coisa igual! Por sorte, nosso motorista se perdeu e fomos parar no centro do Rio de Janeiro!! Graças à isso, conseguimos ver e fotografar as belas paisagens do Rio ao nascer do Sol! Inesquecível, incrível, único!
Ficamos duas horas perdidos no Rio de Janeiro até chegarmos na Ilha do Governador, nosso local de catequese e hospedagem. A "Ilha" nos reservou grandes surpresas, boas e ruins, e, para completar, a vista era da ponte Rio-Niterói com seus 17 quilômetros de garbo e elegância!
Descemos cantando, o espírito era de peregrinação. Foi nesse momento que tivemos o primeiro contato com o "Kit Peregrino". Os lanches do kit eram muito bons! (à exceção da salada de atum em conserva e da batata de saquinho da vigilia que me proporcionaram a pior azia de todos os tempos). O único problema da comida foi comer torrada com polenginho + barrinha de cereal todos os dias.Nesta manhã ainda tivemos catequese com um bispo do Alasca seguida de eucaristia.
Depois da eucaristia, o pesadelo começou. Na hora de chamar as pessoas para serem acolhidas nas casas nosso nome não estava em nenhuma lista e não permitiam que ficássemos alojados no salão da Paróquia "São José Operário". Não tivemos almoço e o dilema perdurou até as 4 horas da tarde quando colocamos as malas dentro do salão contra a vontade da organização.
O salão era pequeno e não estava nas melhores condições de limpeza. Não tinham banheiros, estrutura e sala para acomodar todos os peregrinos que tiveram que ficaram alojados. Tentavam a todo custo nos tirar dali com mil e uma desculpas. Não aceitamos e o preço a pagar doeu.