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domingo, 25 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte V

A madrugada fria da vigília.

O Santíssimo Sacramento ficaria exposto a noite toda no Palco de Copacabana em um belo ostensório, grande e dourado. O Papa deixou o Palco com a promessa de voltar no dia seguinte durante uma apresentação de dança. Ainda tiveram outra apresentações e um ensaio para o flash mob; não os vi pois precisava voltar para junto do grupo pois era tarde e a fome e o frio falavam mais alto.
Nós não tínhamos levado nada para passar a noite ali: não tínhamos comida, não tínhamos agasalhos suficientes, deixamos o saco de dormir e a lona no alojamento da paróquia e tão pouco tínhamos cobertas para nos aquecer. Contávamos apenas com a providência de Deus pois não tiraríamos os pés dali em hipótese alguma.
Mas Deus não nos abandonou em nenhum momento daquela noite. Os meninos conseguiram chegar a tempo de conseguir pegar kits vigília para todos e não tiveram problemas em pegar conduções na noite carioca. Isso significava que todos estavam bem e teríamos alimento para os dois dias. Para mim, que vivo morrendo de medo de ter uma crise de hipoglicemia, foi com grande alegria que recebi esta notícia; Deus havia nos providenciado uma caixa cheia de mantimentos.
Os telões haviam sido apagados e o frio começava a apertar; eu tinha apenas uma camiseta de manga comprida e uma blusa de frio fina; não estava preparada para a madrugada fria que viria. Aliás, nem eu nem o nosso grupo.
O cansaço era grande e acredito que não somente a mim; havia pessoas acampadas ali há alguns dias e sob frio mais intenso. Me disseram que na noite da vigília alguns optam por não dormir e virar a noite cantando e dançado; eis que a profecia se cumpriu. Havia um grupo de catecúmenos eslováquios perto de nós que cantava e dançava; havia um grupo de brasileiros que percorreu a praia inteira a noite toda cantando "se eu não durmo, você não dorme, Jesus ressuscitou". O corpo estava realmente exausto, mas a mente conseguia controla-lo e aguentar muito mais.
Eu não percorri a praia toda cantando e não entrei na roda dos catecúmenos eslováquios. Me limitei a ficar juntos dos meus irmãos e tentar dormir. Cochilei algumas vezes. A sirene da ambulância e o frio intenso não deixavam que os meus cochilos durassem mais que dez minutos. O frio era tanto que eu tremia, meus dentes rangiam involuntariamente; não tinha como controlar. Nós estávamos em umas 6 ou 7 meninas abraçadas e enroladas nas nossas bandeiras do Brasil (sim, o nacionalismo era geral!). No caso, eu e a minha irmã dividíamos a nossa bandeira; nós nunca havíamos ficados tão juntas como naquela noite. Uma bandeira nunca havia sido tão bom cobertor quanto antes. Nunca agradeci tanto a Deus por não estar sozinha.
A nossa sorte foi ter levado as sombrinhas que, além de nos proteger da chuva da caminhada, nos protegeram - pelo menos um pouco - do frio que fazia ali. Se você tentar imaginar a cena, tenho certeza que vai rir, mas na hora do sufoco vale tudo. Sorte também que tínhamos chegado tarde e a praia estava lotada pois se estivéssemos na praia não iríamos dar conta do frio. Sim, muita gente ao nosso lado passou mal por causa do frio mas, graças a Deus, ninguém do nosso grupo teve problemas.
Para mim um momento forte naquela noite foi por volta das 4 da manhã quando eu e umas amigas fomos procurar por um banheiro. Havia pouquíssimos banheiros na praia, os postos de atendimento tinham filas gigantescas e havia apenas dois banheiros químicos beeeem espaçados, com filas quilométricas. Não tinha condição de ficar ali, fomos tentar a sorte e pedir que os bares e hotéis nos deixassem entrar, de preferência sem cobrar nada. Nós conseguimos boates, na primeira nos cobraram 5 reais (absurdo, moço, somos peregrinos!) e na madrugada nos deixaram entrar sem pagar. Fiquei feliz de conseguir um banheiro, bem dizem as anedotas da internet que peregrino de verdade reconhece o valor de um banheiro!
Foi justamente na boate em que conseguimos entrar sem pagar que eu entendi o que estava acontecendo. Enquanto eu estava vivendo uma Jornada Mundial da Juventude havia pessoas que a ignoravam, que não conheciam o amor de Deus. Foi ali na fila do banheiro o momento em que mais rezei naquela madrugada: agradeci a Deus pela minha família, pela oportunidade de estar em uma família cristã e catecúmena que me mostrou o melhor lado, feliz por estar junto dos meus amigos e irmãos na fé. Não me importava em não ter luxos, em estar mal vestida, com os cabelos bagunçados, passando muito frio e andando na orla de Copacabana durante a madrugada procurando banheiro. Eu estava verdadeiramente em uma Jornada Mundial da Juventude e Deus havia confiado a mim - e a mais 4 milhões de jovens - a missão de ensinar o Rio de Janeiro a grandeza do amor de Deus. Rezei por aqueles que não conheciam a Deus e que Ele suscitasse naquelas pessoas o desejo de uma vida nova assim como suscitava em mim. Foi nesse momento em que a minha ficha caiu de verdade: às 4 da manhã na fila de um boate esperando pelo banheiro.
Eu tinha medo e Deus não me abandonou. Eu sentia frio mas ele me deu forças para aguentar. Ele me levou a uma boate cheia de gente que vivia tudo ao contrário do que eu vivia; ele me permitiu viver essas experiências para que eu crescesse e enxergasse que "a messe é grande e poucos são os operários" e eu me vi como operária, na minha fragilidade, no meu pecado, mas, ainda assim, operária da messe. E nunca havia me orgulhado tanto disso.
Minha catequista dizia na volta que à cada um Deus passa de um jeito: à Moisés passou em uma sarça ardente, à Elias numa brisa suave e à nós no frio de Copacabana. Não há comparação melhor que essa.

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