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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Poema de fim de ano.

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade

Retrospectiva 2013

Um ano, de muitas formas, marcantes. Este foi o ano da decisão, de escolher quem e o que eu seria pelo resto da minha vida. Foi um ano difícil justamente pelo fardo desta decisão que engloba vários aspectos, mas ainda assim, um ano certamente inesquecível!

2013 chegou badalado. As férias de verão foram uma das melhooores da minha vida, com certeza! Se não teve praia, viagem que costumo fazer todo verão, teve muita balada aqui pelos lados do Rio Pardo! O verão me permitiu curtir todas as festas que o resto do ano dos vestibulares não me deixou curtir. E tive companhias incríveis, que cantaram e dançaram comigo todas as músicas do começo ao fim!
Mas quando o verão acabou, o choque de realidade. Comecei meu terceiro ano do Ensino Médio com uma das melhores notícias que já recebi na vida: aprovada na UNESP como treineira, em Serviço Social em 5º lugar! Ah, a Unesp... o #projetounesp ficou sério neste dia, pois foi com grande alegria que recebi esta aprovação, desde treineira eu já queria muito a Unesp e só Deus sabe o quanto continuo querendo! Apesar de começar o terceirão aprovada em serviço social na unesp e direito na puc e na unaerp, eu já sabia que teria que ralar muito para conquistar meu objetivo: uma vaguinha em alguma faculdade em 2014 (que de preferência seja a UNESP!).
O que era apenas um anúncio de ano marcado por muitos estudos se concretizou ao longo de 2013. A rotina era cruel: aula das 7 às 13 e duas ou três vezes por semana aula à tarde, às 14 horas, o que não me permitia voltar para casa e almoçar. Porém, aprendi a almoçar na escola junto com os meus amigos e por mais que não tenhamos tido almoços muito saudáveis, nos divertimos muito todas as vezes! Além disso, quando não era aula à tarde, era prova, o que era consideravelmente muito pior. Tinha dias que eu passava mais tempo na escola do que em casa. Quando não estava na escola, estava no meu quartinho dos fundos estudando, completamente alheia ao mundo. Estudei sem parar para quase nada, das 7 às 23 horas, cansada ou não, semi dormindo ou não. Disciplina e determinação foram as palavras de ordem!
O café foi eleito meu melhor amigo em 2013! Esteve comigo todos os dias da minha vida, em doses amargas que era para eu despertar e manter-me focada nos meus estudos. Minha cafeína não me deixou desanimar, só o cheiro do café do lado da minha mesinha de estudos já me dava forças extras! Descobri um grande amor que, como todo 'amor', no começo é uma fofura e a gente tem uma ânsia enorme de querer doses grandes com medo de acabar até termos uma dor de estômago tremenda e revermos nossa postura. Minha crise de gastrite mais forte, pasmem, foi na vigília da JMJ, em que, menos de 5 meses de amores profundos, percebi que já era hora de diminuir o ritmo. Hoje eu e o café fizemos as pazes: duas xícaras por dia, no máximo, e não mais uma garrafa a cada 24 horas.
2013 também teve um quê a mais de angústia: a despedida. Se antes dizer "tchau, foi embora" a esta minúscula cidade com todos os problemas me parecia uma ideia perfeita, hoje já pondero mais este ponto de vista. Vivi muito aqui, cultivei grandes amizades, minha comunidade do caminho está aqui e sobretudo, minha família. Em algum momento deste ano, não me recordo exatamente qual, desenvolvi um amor exacerbado pela minha família, o qual nunca antes havia sentido. Minha mãe se tornou minha melhor amiga: verdadeira e realista, me deu as melhores dicas de vida que espero não esquecê-las nunca. Meu pai se tornou meu herói, sem nenhuma briga desta vez, foi o cara que conseguiu ir e voltar de uma cidade à outra em uma hora, para pegar o RG do Carlinhos e ele chegar a tempo de fazer a prova. Meus irmãos, meus queridos amores, irritantes, porém, meus queridos. Minha avó, a pessoa que mais rezou por mim neste ano; não teria sido capaz de enfrentar esta maratona de vestibulares se não fossem as fortes orações da dona Noemia, minha rainha! O dia da minha mudança sabe-se lá para onde se aproxima e por mais que eu queira demais a minha independência, vou sentir tanta falta deste amor que tive em casa neste ano! Sinto tanto por não ter curtido mais a família, por ter passado boa parte da minha adolescência reclamando e brigando com tudo.. sinto por não ter estado mais aqui dentro. Estudei muito, mas o eu verdadeiramente aprendi foi amar a família que Deus me deu, foi os valores que meus pais se empenharam tanto a me ensinar! Hoje eu sei o quanto tudo foi bom e tudo que eles fizeram foi para o meu bem, sou eternamente grata por tudo que recebi aqui dentro este ano: amor, carinho, respeito, conselhos, apoio e todos torcendo pelo meu sucesso, se não fosse a força que vocês me deram este ano, eu não teria aguentado! Amo demais vocês e vão fazer uma falta enorme na minha nova cidade!
Choros à parte, este também foi o ano da despedida do Ensino Médio! Três anos sofridos, de fortes inimizades, desavenças e intrigas. O terceirão não foi diferente: brigas, intrigas, acusações, troca de farpas o tempo todo. Acho que cada um a sua maneira sofria por um motivo, uns pelos vestibulares, outros de amor e outros de fofocas, mas cada um teve seu motivo para fazer o que fez! Acredito que tudo na vida é importante e nos ensina algo, logo, o Ensino Médio foi importante na minha vida porque me ensinou a conviver com as diferenças, de ouvir e acatar a opinião alheia mesmo que eu não concordasse com tudo o tempo todo.. e isto foi importante porque eu sei que na minha vida de advogada vou ouvir muito não, vou perder algumas causas e sempre haverá alguma área que eu não dominarei. Quando isso acontecer, vou me lembrar dos dias de DGG COC, de ouvir e ficar calada, de respeitar o outro, de aprender que "querer é fazer" e de, sobretudo, mostrar a mim mesma que sou capaz de vençer independentemente da dificuldade. Na sala de aula não fomos amigos, nos detemos a reunirmo-nos em grupos que tivessem as mesmas características pessoais e objetivos comuns. Cada um encontrou o que queria e tenho certeza que foi feliz. Sentiremos saudades! Sentiresmo da nossa turma meio diferente, da convivência, dos professores e das nossas panelinhas. Mas é, a gente se encontra numa mesa de bar, num evento da faculdade e veremos o quanto tudo valeu à pena na vida de cada um. Espero que todo o terceirão coc 2013 seja feliz, que cada um siga seu caminho e tire lições para levar para a vida muito além das nossas 300 mil matérias!
E como falar do terceirão sem falar no #paponerd? O #paponerd com certeza foi a melhor parte de todo o Ensino Médio! Como o nome do nosso grupo já diz, o nosso objetivo é "discutir as mais variada formas de conhecimento" em qualquer lugar, o tempo todo! Somos 8, felizes, nerds com muito orgulho, estranhos, diferentes e os carinhosos apelidos que você quiser nos dar. O lema do #paponerd é não se importar com o quanto digam que somos estranhos, e sim, aprender em qualquer situação. Aprendemos muito.. primeiro, a nos respeitar; segundo, sobre infinitas matérias e informações vestibulandísticas trocadas; terceiro, a rir da nossa própria desgraça; quarto, a dar um jeito de resolver os nossos próprios problemas, sejam eles de matemática ou pessoais; quinto, e não menos importante, a amar verdadeiramente e extrair o máximo de conhecimento possível dos nossos professores e não deixar nossas dúvidas passarem. Vai ser estranho, tenho certeza que a todos independente de onde estejam no próximo ano, entrar numa sala de aula e não encontrar o #paponerd todo reunido me esperando chegar, encontrar todos rindo, virar para o lado a cada mísera duvidazinha e não encontrar vocês no pátio para comer coxinhas no almoço! Já disse muitas vezes e direi-o novamente: amo o #paponerd, sinto orgulho de ser #paponerd, nunca vou me esquecer do #paponerd, vou morrer de saudade do #paponerd na faculdade, vou morrer de saudade de almoçar com o #paponerd, vou morrer de saudade de compartilhar conhecimentos com o #paponerd! Vocês sao incríveis, amigos sinceros, fofos na medida certa e muito especiais no meu coração. Espero que nunca percamos a amizade que o #paponerd e os dias difíceis de vestibulares uniram!
Não poderia deixar de ressaltar o quanto me apeguei nos amigos catecúmenos! Seja com as "gatas da comu", seja com toda a comunidade 5 que tanto amo ou com aqueles que estão longes(especialmente a Lê, de Brasília, que sempre lê o meu blog, que é uma fofa, que troca experiências de peregrinações comigo e que eu agradeço muito a Deus por ter conhecido!). É difícil para mim, também, pensar que não estarei perto dos irmãos todos os dias no próximo ano (se tudo der certo e eu finalmente for para a faculdade!). Quero muito estar em uma cidade onde tenha o Caminho, quero muito poder continuar ouvindo a palavra de Deus toda semana e espero encontrar pessoas legais e dispostas a serem meus irmãos nesta nova comunidade mas há pessoas que Deus coloca na vida da gente que simplesmente são para todo sempre! São pessoas que ficarão do teu lado independentemente do que você resolva fazer, gente que vai sempre ouvir o que você tem a dizer, que vai te dizer o que fazer quanto você estiver perdido, que vai te levar pra casa toda vez mesmo sem você pedir ou querer, gente que vai torcer pelo seu sucesso, que vai te levar para missa e depois para a balada! Gente que quando tem que ser séria sabe bem como ser, mas, que se puder, vai dar um jeito de fazer piada com tudo só para você relaxar. Eu agradeço tanto por ter pessoas assim na comu, por ter anjos que fizeram tanto por mim neste ano, que me aguentaram nas crises, ouviram toda a minha ladainha (mais longa do que aquela que canta na Páscoa!), que estiveram comigo em todo tempo, que não me deixar perder a fé e a esperança. Isso sem contar na JMJ, o quanto foram pessoas enviadas por Deus para cuidarem de mim! Sou eternamente grata por tudo que a comunidade 5 - a melhor das melhores- fez por mim neste ano! Obrigada por cada oração, cada carona, cada sorriso amigo, cada "rolê dus campeao" pra descontrair a moçada, cada conversa séria que tivemos, cada brincadeira e por cada momento que estivemos juntos! "A comunidade 5, cheia de amor e zinco" foi uma das melhores partes do meu atribulado ano, a parte que fez as coisas, sempre, ficarem melhores de alguma forma! Amo cada tripulante desta nave!
Sei que já falei muito da JMJ mas queria enfatizar mais uma vez que foi a parte mais marcante do ano! O mais aguardado, o mais sofrido e o melhor evento de toda a minha vida até agora! Como eu disse, amo ser parte da "juventude do Papa" e a JMJ foi, simplesmente, inesquecível. Obrigada por tudo, JMJ!!
Quanto aos amores, como sempre, decepcionantes. Eu espero demais que os caras me façam felizes, que me deem flores enquanto declamam poemas do Vinicíus de Moraes e que sejam tudo o que eu sonhei para mim.. mas aprendi que a vida não é assim não, que é quando tem que ser, quando for a hora certa. Aprendi, neste ano, em alguma das minhas aulas de literatura, que amor de verdade não é idealização, não é como no romantismo.. amor é um esforço de duas pessoas comprometidas em amarem o outro independente da situação. É complicado, mas existe em algum lugar. Espero achá-lo algum dia em algum lugar!
Falando em amores, não posso esquecer de mencionar que este ano foi o ano das paixões platônicas pelos meus professores. Talvez fosse apenas o medo da despedida, mas me apeguei muito à todos! Estarão sempre no meu coração! Há um que batizei-o como o melhor dentre os melhores, o meu sumo amor, a pessoa que deu razão à cada coisinha que há na vida. Que me desculpem os outros, sentirei muita saudade de todos, mas este é "o" cara, o meu cara, a pessoa que me apresentou à literatura e me fez amá-la, o cara que eu gostaria de levar comigo para a faculdade se eu pudesse!Vou morrer de saudade de ouvir o Marcinho declamar poemas, contar histórias, dar as broncas marcísticas e me fazer suspirar mais a cada aula. Obrigada por ser o meu cara em 2013, Márcio!

Em 2013 houve dias bons, dias ruins, dias que eu não me continha de felicidade e dias que eu tive vontade de jogar tudo para o ar. Houve provas difíceis, dias longos e vestibulares sofridos. Houve amor, amizade, briga, intriga, inimizade. Houve começo, houve fim. Houve saudade, muita saudade, reencontro, mais saudade e sobretudo muita espera. Espera de dias melhores. Espera de um novo encontro e de uma nova chance. Espera de ver as coisas finalmente se acertando. Espera pelo vestibular, pelo resultado, pela festinha no domingo, pela viagem.
O que é a vida senão um eterno começar e terminar? O que seria dos grandes momentos se não tivesse existido muita espera e empenho para fazer acontecer?
A vida é um ciclo em que as coisas inevitavelmente começam e terminam. Um novo ano é um novo ciclo, uma nova volta em torno do Sol! Certamente nenhum de nós seremos os mesmos pois muita coisa aconteceu neste ano! Buscaremos novas coisas, novos amores, novos sonhos para serem realizados. Tenho certeza que Deus me ajudará na minha nova busca e que ela virá na hora certa. Tenho certeza que as coisas se ajeitarão, não porque um novo ciclo começara, mas porque, quando der meia-noite, uma esperança nova renascerá no meu coração, uma chama capaz de me fazer correr atrás de cada objetivo. A chama se acenderá e devemos cultivá-la ao longo do ano, lembrar que temos que fazer tudo valer à pena e nunca desistir do que verdadeiramente queremos. O meu ano, mesmo com tantos problemas e dificuldades, valeu muito à pena! Aprendi demais e espero que o seu também tenha sido bom e te ensinado muitas coisas.
Espero que o ano novo traga muita esperança nova, que acenda novamente a chama no meu coração e que todos os 365 dias e 6 horas de 2014 nós todos possamos nos lembrar que temos o dever de fazer valer à pena e nunca desistir.
Espero que 2014 seja melhor ainda do que o ano que passou, que seja repleto de conquistas, realizações, amor, amizade e esperança.
Faça valer à pena. Não desista. Lute até o final.
Tenho certeza que vai ser incrível se você se dedicar a ser incrível!
Um beijo e um abraço bem apertado à todos! Feliz 2014!

sábado, 28 de dezembro de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte XI, final.

"Temos um encontro marcado, em 2016, em Cracóvia, na Polônia"

Mesmo quando o último grupo de estrangeiros foi embora na segunda feira de manhã e quando eu voltei para a minha rotina de aulas, estudos e vestibulares não parecia que tudo aquilo tinha acontecido na minha vida. Eu vivi uma Jornada Mundial da Juventude no meu país! Eu acolhi jovens peregrinos na minha casa. Eu vi o Papa de pertinho. Eu fiz parte do coro "esta é a juventude do Papa". Eu conheci os fundadores daquilo que é a razão da minha vida, o Caminho Neocatecumental. Eu levei a palavra na casa de uma família que não a conhecia. Eu dormi no chão de Copacabana, passei frio, fome, não tomei banho todos os dias.....Eu professei a minha fé, gritei ao mundo o que mais acredito na vida: Jesus Cristo. Não parecia que tinha acabado, tudo estava tão vivo ainda!
Enfrentamos muitas dificuldades durante a JMJ, algumas previstas e outras totalmente imprevisíveis. Dizem meus amigos mais velhos que peregrinação é sempre assim: sufoco do começo ao fim e primeiro você apanha muito e no final recebe a Redenção. Experimentei isto em Brasília e tornei a experimentar a sensação de se peregrina, só que agora de uma forma muito mais forte no Rio de Janeiro.
Deus me ensinou, à duras penas, a não reclamar, e pelo contrário agradecer, pela vida que tenho. Deus me ensinou a não reclamar da minha cama, do meu banheiro, da comida que tenho em casa, da minha cidade onde tudo é perto, por ter padres na minha paróquia que falam português e dos meus amigos. Peregrino que é peregrino come o que lhe oferecem, sem luxo, gostando ou não, pois é a única comida que você vai ter. Peregrino que é peregrino dorme onde e quando dá, com frio, calor, chuva, em lugar limpo ou sujo. Peregrino que é peregrino toma banho frio ou quente, extremamente rápido, quando dá ou quando tem água (na JMJ foram 2 em 6 dias hahahhaa). Peregrino que é peregrino anda feito louco, cantando, dançando, com dor, sem dor, machucado, querendo ou não é tudo à pé e a cada caminhada uma surpresa! Peregrino que é peregrino aprende a obedecer catequista. Peregrino que é peregrino tem que enfrentar horas na fila da comida, do banheiro, do ponto de ônibus e da entrada do evento. Peregrino que é peregrino escuta a catequese pela tradução do rádio. Peregrino que é peregrino sai conversando com qualquer pessoa que carregue uma bandeira do Brasil ou se arrisca no inglês, porque o importante é não ficar parado e ser simpático! Peregrino que peregrino não tem família, tem os irmãos de comunidade que são mais que amigos, são anjos que vão dividir a comida com você, que vão enfrentar os sufocos com você, que vão te dar forças quando você estiver cansado e querendo desistir, que vão tem emprestar o moletom quando você estiver com frio, que vão te abraçar quando você estiver com saudade de casa, que vão te emprestar o celular pra você usar e que vão te dar a mão pra andar junto no meio da multidão, porque não vão deixar que um só irmão se perca.
As amizades de peregrinações são especiais e diferentes de tudo justamente por isso, pelo espirito de união e de ajuda. É um sentimento forte em que a gente quer que cada irmão esteja bem, confortável e junto do grupo. Há pessoas que conhecemos em peregrinações que passamos meses e anos sem vê-los mas quando há um reencontro, é como se não tivesse tido distância e saudade. É como se tudo continuasse do mesmo ponto em que paramos. Nem preciso dizer que o assunto preferido é rir e comentar tudo, cada detalhezinho, do que aconteceu na peregrinação, em que vale a lei do "depois que passa a gente ri". É um tipo de amizade realmente muito diferente e muito única, adoro estar junto dos irmãos pois este espírito de ajuda e união sempre estão presentes! Obrigada por tudo o que você fizeram pois nesta JMJ, meus irmãos de fé, de perto ou de longe!
Há coisas e momentos na Jornada que são, definitivamente, inesquecíveis. Como não lembrar (e sentir o estomâgo revivrar) toda vez que vejo uma caixa de polenguinho? Como não sentir as pernas doerem só de lembrar dos 17 QUILÔMETROS de caminhada até a praia de Copacabana? Como não lembrar daquela noite, a noite das noites, em que dormi no chão frio do calçadão em condições beem piores que um mendigo? Como não lembrar daquele momento, único em toda a História, em que Sua Santidade, o papa Francisco, olhou para mim e me abençoou? Como não sentir o coração bater mais forte toda vez que lembro do momento em que O Kiko anunciou os brasileiros? Como não cantar "esta é a juventude do Papa!" toda vez que se referem à JMJ? Como não sentir o coração apertar de saudade ao lembrar de tudo isso?
Certas coisas ficam no coração da gente pra sempre. Certas coisas marcam tanto a vida da gente que é possível dividir a nossa vida em antes e depois dela. Certas coisas que vivemos foram tão boas, incríveis e inesquecíveis que tudo o que mais queremos na vida é a chance de podermos vivê-las de novo. A JMJ é uma destas coisas para mim. Tenho tantas lembras, guardo tantos momentos bons, tanta vontade de passar por cada perrengue outra vez que não penso em não ir à próxima Jornada Mundial da Juventude.
Estar em Cracóvia, Polônia, daqui a 3 anos é um projeto sério que não medirei esforços para realizá-lo. Não faço a menor ideia de como irei, de como arrumarei dinheiro suficiente para estar lá pois não trabalho, não sou de família rica e não vou ganhar na mega-sena. Acredito que uma coisa me levará à Polônia, somente uma: Deus. Foi Ele que cuidou de nós em todos os momentos da JMJ Rio 2013. Foi Ele que nos deu forças pra caminharmos os 17 quilômetros, foi Ele que nos ajudou a resistir ao frio intenso de Copacabana, foi Ele que providenciou água, comida e banheiro quando não aguentávamos mais, foi Ele que providenciou cada coisa de que precisávamos e que providenciou os sufocos da peregrinação, pois ele sabia o quanto eu precisava aprender com eles, e que fez tudo se tornar perfeito e inesquecível.
Foi por Deus que estivemos em um grande grupo na JMJ Rio 2013 e tenho certeza que Ele providenciará um jeito de nos levar à Cracóvia. Sei que em se tratando de Jornada Mundial da Juventude e peregrinações, o caminho não será nada fácil. Haverá dias em que eu terei vontade de desistir, em que eu acreditarei que não será possível chegar à outra JMJ. Mas tenho certeza que quando estes dias chegarem, as lembranças dos momentos que vivi na JMJ falarão mais alto, tenho certeza que em qualquer dificuldade que eu tiver ao longo destes 3 anos (que não serão poucas) me lembrarei que Deus estará comigo assim como esteve em toda a JMJ Rio 2013 e que ele providenciará que jorre água do deserto para matar a minha sede. Tenho certeza, absoluta, que ele me dará forças, que ele fará o impossível e de que tudo, no final dará certo. Tenho esta certeza porque vivi uma JMJ atribulada e nesta JMJ Deus revelou sua face misericordiosa à mim, me mostrou que está sempre do meu lado e me dará as coisas conforme a minha necessidade, nada mais, nada a menos.
O meu Deus é o Deus do impossível. É o Deus que fez 4 milhões de jovens suportarem o frio e gritarem, em uníssono, o quanto é bom ser parte desta juventude cristã, que está disposta a andar 17 quilômetros, a passar frio, fome e tantas outras coisas pela fé. Quero muito ter a sensação de alegria que tive nesta JMJ em Cracóvia. Quero muito poder ver o Papa e o Kiko outra vez. Quero cantar naquele túnel de acesso outra vez. Eu quero passar frio, fome, saudade, calor e seja lá mais o quê para ter essa sensação de alegria e para reafirmar a minha certeza de que Deus está comigo em todos os momentos da minha vida.
A JMJ Rio 2013 foi inesquecível e certamente está no coração de todos que, de alguma forma, fizeram parte dela. Sou parte da juventude do Papa, com muito orgulho.
Francisco, espero vê-lo em breve, com o mesmo sorriso fofo da JMJ Rio 2013.
Kiko,Carmen e Padre Mário, continuem sendo a me inspiração e fazendo bagunça nesta Igreja.
Rio, obrigada por todos os momentos, bons ou ruins, que me proporcionou. Continue lindo.
Ilha do Governador, obrigada por receber a nossa turma mesmo com toooooooda a burocracia.
Renata, obrigada por me acolher na sua casa e me mostrar - e me fazer acreditar - que ainda há pessoas com bom coração e disposição à fazer o bem.
Amigos rio-pardenses, obrigada por cuidarem de mim e serem os meus anjos.
Amigos peregrinos, em especial àquele que passaram por São José, foi um prazer conhecê-los, espero vê-los de novo um dia.
Juventude Cristã, somos loucos e somos muitos. Nunca deixemos morrer em nós a alegria de ser parte de uma Igreja jovem e feliz e que sobretudo mantenhamos viva a chama que a JMJ Rio 2013 acendeu em cada um de nós.

NOS VEMOS EM CRACÓVIA, NA POLÔNIA.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte X

Estrangeiros em São José do Rio Pardo

Passei a semana da chegada da JMJ anestesiada; não conseguia absorver tudo o que estava acontecendo... era tanta coisa para contar, para ver, para matar a saudade! São José estava mais bonita e o meu coração sossegado. Eu sentia uma alegria dentro de mim que não conseguia explicar!
Mas a Jornada ainda não havia terminado para nós. No final de semana depois do Rio de Janeiro, recebemos mais dois grupos de estrangeiros italianos em nossa paróquia santuário São Roque! Antes de irmos ao Rio de Janeiro recebemos dois grupos de chilenos e espanhóis e um grupo de italianos. Como comecei meu "Diário JMJ" pela viagem, contarei, neste oportuno momento, as visitas de estrangeiros que recebemos antes e depois do Rio de Janeiro.
Domingo, 21/07/2013. Recebemos um grupo de 120 chilenos em nossa paróquia, que rezaram com os monges, tiveram almoço festivo e conheceram a cidade. Infelizmente esta foi a única visita que não pude acompanhar pois estava na Jornada Diocesana da Juventude, preparando corpo, mente e alma para a grande Jornada Mundial da Juventude.
, Quando evangelizavam, falavam com o coração, contavam a própria vida e se esforçavam para serem compreendidos, algo raro aqui, nesta cidade burguesa. Eu estava encantada!! O grande detalhe, que abrilhantou esta visita, foi conhecer o seminarista mais lindo e querido de toda a Espanha! Dani deixou saudades no coração das brasileiras, sem a menor dúvida! Nos despedimos no final do dia, com muito pesar. Os chilenos e espanhois deixaram saudade em São José!! Não posso me esquecer que o hino da JMJ 2013 foi "CHI CHI CHI, LE LE LE, VIVA CHILE"!! Por onde iam, aqui e no Rio de Janeiro, todos os chilenos cantava isso e nós fazíamos questão de engrossar o coro! Me arrepiou ouvir o hino na volta na vigília dentro do metrô do Rio de Janeiro! Viva Chile, viva Espanha!
Noite de segunda feira 22/07/2013: uma hora de depois de falarmos tchau aos chilenos e espanhóis, um grupo de 90 italianos chegou em São José! Este grupo foi recebido com uma eucaristia solene, cantada e rezada em italiano. Eram também muito animados, faziam festa com tudo! A eucaristia foi verdadeiramente estupenda! Todos os irmãos rio-pardenses reunidos para recebê-los, a casa estava cheia e linda! Nunca vou me esquecer do canto "Jesus percorria todas as cidades", meu canto preferido da JMJ, em italiano! Após a eucaristia, os italianos foram encaminhados às casas onde foram acolhidos. Aqui em casa recebemos duas moças muito lindas e educadas, a Iada e a Benedetta! Jantamos, conversamos em alguma língua que misturava inglês, português e italiano e foi extremamente divertido! Trocamos conhecimentos sobre as cidades das meninas - algum lugar em Florença (Firenzeeee!!) - e a nossa. Me lembro de ter amado a ponte de ouro na cidade da Iada! Amei ter recebido as meninas aqui em casa pois quando estive em Brasília fui muito bem recebida por uma família e queria retribuir a hospitalidade que recebi! Espero que as meninas tenham gostado da recepção pois fizemos o nosso melhor!! Espero um dia encontrá-las de novo! Pela manhã, tivemos um farto café da manhã como nunca havíamos tido aqui em casa! Rezamos laudes em italiano no mosteiro, levamos o grupo para conhecer o mosteiro, cantamos, nos divertimos muuuito, almoçamos e depois tivemos que dizer adeus! Foi muito bom recebê-los em São José e hospedá-los aqui em casa. Uma experiência de acolhida única, todos amamos!
Noite de sexta feira 02/08/2013: Jornada finda, recebemos mais dois grupos de italianos. Na noite de sexta, cerca de 50 italianos passaram por São José! Foram recebidos novamente com solene eucaristia, cantada e rezada em italiano! Fizemos um ágape (janta) festiva e o grupo foi dividido para as casas para passar a noite. Nesta vez não pudemos acolher ninguém em casa, todos queriam italianos em suas casas! O que mais me marcou nesta visita, com certeza, foram os olhos azuis cintilantes do Padre Sthéfano!Inesquecíveis! De manhã, o pessoal rezou laudes com os monges e logo depois foram embora. Rápida visita, porém muito importante à todos nós!
Tarde de domingo 04/08/2013: o último grupo de estrangeiros que recebemos em São José chegou durante à tarde em nossa Paróquia. Os italianos foram dirigidos às casas em que seriam acolhidos e à noite celebramos outra eucaristia festiva, rezada e cantada em italiano! Depois, jantar de gala. De manhã, laudes e a partida.
Na manhã de segunda feira, 05/08/2013, quando o último grupo de estrangeiros que recebemos antes e depois da JMJ foi embora, foi quando eu me dei conta de eu tinha, enfim, vivido uma Jornada Mundial da Juventude no meu país, pude acolher cerca de 400 jovens catecúmenos na minha paróquia, que pude participar de 4 das 5 acolhidas, que fiz o melhor para que estes jovens se sentissem em casa e que mostrei um Brasil lindo, porém não sem problemas, aos meus irmãos de fé do mundo todo.
Foi uma experiência realmente única viver a JMJ no meu país. Eu fui parte da galera que fez a jornada acontecer e que foi responsável por ter feito 4 milhões de jovens amarem o Brasil! Nunca vou me esquecer desta oportunidade que tiver e espero que um dia o Brasil receba novamente este maravilhoso evento e, se isto acontecer, eu, com toda certeza, farei questão de fazer parte novamente.
Dos amigos estrangeiros que fiz nesta JMJ certamente nunca me esquecerei, seja os chilenos, espanhóis e italianos que pude acolher em São José ou os que conheci no Rio de Janeiro: os paraguaios loucos, os eslováquios lindos, o canadense convencido, os indianos dançarinos e os skatistas do Rio! Cada pessoa, de outro país ou não, que conheci por intermédio da JMJ foi parte de um dos maiores acontecimentos da minha vida e sou eternamente grata por ter conhecido vocês! Espero vê-los um dia, de preferência, em Cracóvia, na Polônia.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O pacto implícito, rompido.

Enfim férias depois de um ano massacrante de estudos. Tenho aproveitado meu raro tempo livre para por ordem na casa, literalmente, e recuperar o tempo perdido. Não conheço as músicas novas, não sei quais são as tendências de moda, não lembro mais como é andar livremente pela minha cidade... Estou tão impregnada pelo meu passado, pelos meus estudos quanto um quarto de sótão que há anos não vê luz e faxina. Minha vida é um emaranhado de teias de aranhas, cheia de livros com páginas amarelas e de caixas velhas que eu não consigo me desfazer. Não jogo fora, não arrumo e não acendo a luz do quarto. Deixo tudo como está, juntando cada vez mais poeira. Há em cada um de nós um sótão que esconde nossas memórias, nosso passado, coisas que precisamos mas não queremos nos desfazer. Há quem prefira deixar lá, como eu, para a hora que a saudade apertar. Há quem simplesmente finge que não tem e que se libertou; grande mentira, há sempre uma caixinha escondida atrás do armário ou debaixo do tapete. Tem dias, horas e momentos na vida em que é inevitável entrar no sótão, abrir a caixinha das lembranças e ficar a contemplar. Poesias e músicas são feitas neste momento. Tudo volta com força total. Mil pensamentos enchem a nossa cabeça, preenchem o coração.. Hoje é o dia de abrir a caixinha, de voltar ao sótão, de andar em meio às teias de aranhas de volta ao passado. Encontrei este poema no meio de minhas lembranças, adoro-o, define bem o que sinto hoje. A UM AUSENTE Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Prosa.

Final de ano chegou, mais trezentos e tantos dias se passaram. E aí, o que você fez? Não é hora de retrospectivas ainda - sim, sou sistemática - mas o filme já têm passado na minha cabeça desde já. Estou mais velha, maior de idade e amadureci consideravelmente neste ano que passou, à duras penas, diga-se de passagem.
2013 foi o meu ano do "querer é fazer", de correr atrás da luz que estava no final do túnel, de perseguir cada pista, cada dica e cada conselho de que eu chegaria viva ao final da maratona. Pois bem, a grande maratona que eu enfrentei neste ano tem data marcada para acabar: segunda é último vestibular em 2013. O último, depois de um ano que só quem verdadeiramente é vestibulando - de corpo, mente e alma - sabe como é.
O vestibular não é só mais uma prova não; é o que resume pelo menos os três últimos anos da sua vida. Três anos não fazendo nada além de estudar - por sorte, no meu caso, tive a Igreja para dar uma 'amenizada' - é muita coisa. Muita gente viveu enquanto eu estava aqui estudando. Muita coisa aconteceu e mudou no mundo enquanto eu estudava.
Mas é, cada um escolhe o caminho que vai seguir na vida. Eu escolhi um difícil e cheio de pedrinhas; não me arrependo. Um dias os frutos ficarão maduros. Um dia esta estrada desembocará em outra não menos pesarosa, apenas outra.
Mas esta estrada de vestibular, de intrigas de ensino médio, de decepções amorosas e recheada de fórmulas estranhas pode estar chegando ao fim, finalmente. O que sinto é o mesmo ofegar de um atleta que acabou de completar a São Silvestre: coração acelerado, ansioso para saber se venceu e corpo e mente cansados. Mas também, com a mesma sensação de dever cumprido, de saber que fiz tudo que estava ao meu alcance, atingi o meu limite.
Deveres feitos, agora é só esperar a hora certa chegar. Isto foi apenas e exatamente o que fiz o ano todo: estudei, rezei e esperei muito pela minha faculdade. Lutarei para conquistá-la até quando for preciso.
E você, o que fez este ano? Fez valer à pena?
Se não, corre que ainda dá tempo.

Uma pequena nota por Marô Dornellas:
Direi em outra ocasião, mas se não fosse a intervenção de Deus na minha vida, nada disso seria suportável e nem metade disso teria acontecido.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sobre excessos (d)e saudades.

Quando você para tudo o que você está fazendo, quando você se desliga de tudo, quando você deita na cama para dormir, qual é o seu primeiro pensamento? Bom, eu penso nas minhas provas, nos meus vestibulares, nas matérias que eu terei que estudar no dia seguinte, me preocupo com "o que eu vou fazer se nada der certo", excepcionalmente faço planos para o futuro e pelo menos uma vez por semana me vêm à mente a saudade que sinto.
Saudade é um negócio extremamente complicado. Saudade é excesso e nenhum excesso é bom. Excesso de presença quando não está mais perto, de amor, de apego, de vontade de viver tudo outra vez, de lembranças e principalmente passado. Todo excesso rompe com os limites pré-estabelecidos fazendo com que o corpo transborde. Saudade, como excesso, complica quando sai de nós e extravasa porque quando transborda, descontrola: vira choro, sorriso bobo, texto, angústia, ciúme, gritos e monólogos.
Sai para fora, justamente, para tentar, com o transbordamento, encontrar o ente saudoso em qualquer lugar. Espera encontrar outra saudade para, quem sabe, juntá-la em uma só. Esse "sentimento" não mede barreiras, distâncias ou qualquer tipo de limite físico, moral ou psicológico. É coisa de louco mesmo!
Mas, se até os loucos têm remédio, estamos nós, saudosistas fanáticos, à espera de uma cura, de um remédio? Depois do emplasto de Brás Cubas (mal sucedido, por sinal) desconheço qualquer avanço na medicina à respeito de remédios que curem os males de espírito, como a saudade. Remédio para a saudade é encontrar outra saudade, tão doente quanto a sua e eternizar o momento do encontro em um abraço infinito, daqueles em que pode o mundo acabar e você não vai se importar, pois o momento do encontro faz a gente pensar que é infinito, que o um segundo de abraço corresponde ao fim de toda e qualquer saudade existente.
No meu caso, já terminal, minha saudade transborda em textos, tenta procurar seu par, mas perdeu-se por orgulho na procura - ou em algum livro do ensino médio. Meu médico não deu nenhuma esperança, disse que só por um milagre teria cura.
Acredito em milagres.
Acredito na minha saudade um dia encontrando a sua.
Acredito que um dia deixaremos o orgulho de lado.

Uma pequena nota por Marô Dornellas:
Só deixarei de acreditar em alguma coisa, seja ela qual for, quando eu enlouquecer e, mesmo se isso acontecer, é capaz de eu ainda acreditar e professar teses tão loucas quanto às do Quincas Borba. Não duvido.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Maior(idade)

Preguiça e covardia são as causas que explicam por que uma grande parte dos seres humanos, mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da orientação alheia, ainda permanecem, com gosto, e por toda a vida, na condição de menoridade. É tão confortável ser menor! Tenho à disposição um livro que entende por mim, um pastor que tem consciência por mim,um médico que prescreve uma dieta etc.: então não preciso me esforçar. A maioria da humanidade vê como muito perigoso, além de bastante difícil, o passo a ser dado rumo à maioridade, uma vez que tutores já tomaram para si de bom grado a sua supervisão. Após terem previamente embrutecido e cuidadosamente protegido seu gado, para que estas pacatas criaturas não ousem dar qualquer passo fora dos trilhos nos quais devem andar, os tutores lhes mostram o perigo que as ameaça caso queiram andar por conta própria. Tal perigo, porém, não é assim tão grande, pois, após algumas quedas, aprenderiam finalmente a andar; basta, entretanto, o perigo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las por completo para que não façam novas tentativas.
Immanuel Kant

Kant, como é difícil crescer! O passo a ser dado rumo a maioridade é muito mais complexo do que atingir tal idade, os 18, é preciso uma consciência moral, um "estado de espírito" que não é tão simples de ser alcançado! É livrar-se da ideia de ter tudo pronto à mão e correr atrás dos próprios aprendizados, das próprias descobertas. É escolher os próprios caminhos e seguir adiante como ou sem medo!
E se não der certo a gente começa de novo e tenta outra vez!
Espero que os meus 18 anos sejam repletos de (boas)escolhas, (muitas) aprovações nos vestibulares, de uma fase nova (faculdade!!) e principalmente cheio de ânimo, força, fé e coragem para nunca desistir dos meus sonhos e de ir sempre à luta!! Espero que Deus me ajude a nunca desistir de nada e que essa idade seja melhor do que as outras que já foram!

Minha música dos 18 anos, Amor pra recomeçar, Frejat:

Eu te desejo não parar tão cedo pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e bastante que você consiga ser tolerante
Quando você ficar triste que seja por um dia e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha a quem amar e quando estiver bem cansado ainda exista amor pra recomeçar, pra recomeçar..
Eu te desejo muitos amigos mas que em um você possa confiar
E que tenha até Inimigos pra você não deixar de duvidar
Eu desejo que você ganhe dinheiro pois é preciso viver também e que você diga a ele pelo menos uma vez quem é mesmo o dono de quem
Desejo que você tenha a quem amar e quando estiver bem cansado ainda exista amor pra recomeçar, pra recomeçar...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sístole/Diástole

Contrai, relaxa, contrai relaxa..
É um movimento contínuo e infinito. Sangue rico em oxigênio de um lado, sangue rico em gás carbônico do outro. Percorre túbulos, atravessa musculatura, troca substâncias e continua. Vai ao grande músculo central, entra sem esperança, segue o fluxo e é impulsionado para fora. Alguma hora volta e faz tudo outra vez.
Se o caminho é sempre o mesmo, porquê percorrê-lo? Porque precisa passar pelo coração e ganhar força nova, precisa voltar ao corpo e deixar novos nutrientes, retirar resíduos e manter vivo. Se o coração parar é rezar para sobreviver pois voltar a funcionar corretamente é realmente milagre ou jogo de sorte.
Por isso é que insistem os médico para você não sobrecarregar seu coração, para deixá-lo sempre livre de gorduras que tornam o fluxo de sangue e o movimento de contrair e relaxar mais pesados. Se a passagem de sangue estiver dificultada, todo o sistema está em perigo.
O sangue tem papel fundamental: leva tudo a todo lugar. Espalha íos, água, glicose, aminoácidos, proteínas  e coragem. Mistura tudo e leva da cabeça aos pés. Forma a maior confusão aqui dentro: partículas se chocam e confundem suas funções. Está tudo trocado por excesso de soluto - ou, de repente, há falta deles. Aprendi bem nas minhas aulas, em química e na vida, que excessos fazem perturbar o equilíbrio, assim, o coração não trabalha bem e o fluxo de sangue é comprometido; aqui é que a catástrofe acontece.
Meu coração é uma mistura disso tudo, que espalha sentimentos tão antagônicos por todos os lados. Chega a ser difícil entender como tudo realmente funciona aqui dentro, há tantos detalhes a serem considerados! Quero meu equilíbrio de volta. Quero que ele pulse novamente em batimentos rítmicos, não por que alguém ditou seus movimentos, mas porque o equilíbrio voltou a ser perfeito.
Hoje, meu coração trabalha com dificuldade e cheio de saudade. Enche e esvazia. Recebe e joga sangue fora. Vai para um lado e para o outro. Movimentos retóricos, sem novidade, sem sangue novo, sem trabalhar direito. Falha e depois volta a funcionar. Leva tudo embora para depois trazer outra vez.
E eu fico aqui, contando meus batimentos e rezando para o coração não parar de vez.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte IX

O encontro com Kiko Argüello - parte 2

Em seguida, veio a parte principal do encontro: a catequese. Kiko havia nos preparado palavras belíssimas, extremamente sinceras, que nos cobravam a nossa atuação enquanto jovens no mundo. Kiko nos dizia verdades, algumas sinceras até demais, porém necessárias. Nos falou o tempo todo sobre a importância do amor, de amar o próximo como a nós mesmos, e também falou muito sobre o amor de Deus por cada um de nós, e este é o maior amor que podemos ter. Porém, a palavra que mais mexeu comigo foi a do "agradeça a Deus todos os dias por estar dentro da Igreja, este é o seu maior presente". E realmente é o maior presente que posso ter.. quem eu seria se eu não estivesse dentro da Igreja? Essa é uma pergunta que eu realmente tenho medo de encontrar resposta.Lindas palavras, muito bem preparadas, ditas energicamente. Kiko mostrou-me pessoalmente o quanto é sábio!
Seguida a catequese, foi a hora do chamado vocacional dos homens - uma das mais arrepiantes. Kiko falou da vida consagrada ao Senhor, sobre estar inteiramente disponível para levar a palavra do Senhor aos lugares mais longínquos, especialmente à Ásia. Em seguida, pediu que todos nos calássemos durante um minuto e rezássemos, em silêncio, "Senhor, envie operários para a messe" (que é um pedaço de um dos meus cantos preferidos *-*). Decorrido esse minuto, solenemente Kiko pediu que aqueles homens que se sentissem chamados a dedicar a sua vida ao Senhor, que se colocassem de pé e fossem até o palco. O momento em que o pessoal levanta é um dos mais fortes nos encontros do Caminho; o local ficou em um silêncio profundo e jovens levantavam por todos os lados - inclusive um dos meus amigos rio-pardenses - e iam correndo ao palco, como se corressem realmente ao encontro do Cristo. Era um a bela cena. Levantaram-se 3000 (TRÊS MIL) jovens homens para servir a Deus. E digo mais, Deus escolheu bem seus novos evangelizadores!!
Na sequência, foi a vez do discurso de Carmen Hernandez às mulheres. Carmem sentia mais que Kiko o peso da idade: caminhava com dificuldade e não se prolongou em sua fala. Simples, determinada, vai direto ao ponto, sem os rodeios do Kiko. Carmen se dirigia às mulheres e as enaltecia (essa parte é típica, catequistas se alfinetam o tempo todo por causa desse assunto!). Carmen pediu que nós, mulheres, não tenhamos medo de sermos mulheres,de sermos fortes e que nos preparemos apenas para um amado: Jesus Cristo.
Em seguida, Kiko explicou o canto que cantaríamos quando as mulheres se levantassem. Nunca gostei desse canto até o momento em que passei a entendê-lo: "e o rei se encantara com tua beleza, ele é o teu senhor, entrega-te a ele e faz temível a sua direita". Realmente o canto começou a fazer sentido para mim: o amado mais formoso é Jesus Cristo, ao qual sempre devemos estar preparados. Decorrido outro minuto de oração no mais profundo silêncio, 2000 (DUAS MIL) mulheres se levantaram para servir ao amado em regime de clausura. Admiro-as pela coragem pois a dedicação é de corpo e alma.
Da JMJ RIO 2013 partiram 5000 novos evangelizadores catecúmenos, que deram o seu primeiro "sim" à sua vocação. Espero que Deus ajude a todos e que a nova evangelização seja realmente estendida ao mundo todo, a fim de que tantos outros irmãos conheçam a maravilha do amor de Deus.Nunca desistam das suas vocações! Acho realmente muito bonito que se dispõe a abrir mão de uma carreira profissional ou de uma vida amorosa para seguir este chamado de Deus.
Decorrido os chamados vocacionais, Kiko anuncia que a hora da despedida estava próxima. A minha ficha ainda não havia caído que passamos o dia todo ali e que agora escurecia e aproximava-se a hora de voltar para casa. Não gosto de finais e não sei lidar com despedidas; queria que aqueles momentos durassem para sempre, queria estar na presença daquele homem sábio todo final de semana, ouví-lo cantar em seu sotaque único, queria os irmãos todos juntos, agitando bandeiras e buscando a alegria em meio às dificuldades! Mas também era preciso voltar e evangelizar por aqui; entendi nesse momento a importância do voltar: era preciso levar o resultado da colheita e espalhar o ânimo, a coragem e as palavras de amor. Dom Orani abençoou-nos e Kiko cantou para encerrar. Cantamos e dançamos nos moldes catecúmenos o 'Ressuscitou' (o velho) em vários idiomas. Cristo havia ressuscitada em nossas vidas naqueles dias de JMJ e saíamos dali com ânimo novo, com a esperança de uma vida nova e decididos a sermos pessoas melhores!
Dançamos no Riocentro até o último segundo, até que o último violão ainda ressoasse as notas do 'Ressuscitou'. Não posso me esquecer que antes de irmos embora teve o momento clássico do "cambiare" que eu pude finalmente conhecer. Catecúmenos de todos os lugares trocavam bandeiras e símbolos de seus países, era realmente engraçado assistir àquilo! O encontro terminou em festa! Uma festa que não precisou de drogas, bebidas, sexos ou rock'n'roll. Estávamos felizes de estarmos ali vivendo tudo aquilo, felizes de Deus ter nos dado um dia lindo ao lado dos irmãos do mundo todo! Eu trouxe minha bandeira do Brasil para casa pois ela foi o símbolo da resistência contra o frio e da união que tivemos na noite da vigília; guardo-a com imenso carinho e saudade e levarei-a comigo à Polônia.
Contudo, a hora de ir embora, apesar do alívio de finalmente voltar para casa, é a mais triste. Triste porque temos que nos despedir da realidade que encontramos ali: de comer polenguinho em todas as refeições, de estar junto o tempo todo, de rezar todos dias o dia inteiro,de passar por momentos inóspitos e sobreviver às dificuldades com a certeza que Deus estava guardando tudo para o final.  Como aconteceu em Brasília, exatamente há um ano atrás, este foi o momento de a ficha cair: a hora em que caminhávamos de volta ao nosso ônibus para ir embora. O filme da Jornada, lindo e tumultuado, passava detalhadamente na minha cabeça. Quantas maravilhas e milagres Deus fez em mim nestes dias! Quantas coisas aconteceram! Como foi bom ter estado lá, como foi bom ter visto e vivido tudo aquilo! Dava vontade de chorar, mas novamente na saída nós cantávamos. Deus providenciou-nos um encontro e uma Jornada estupendos! Não nos falou nada e todas as dificuldades serviram de aprendizado. Deus me mostrou seu imenso amor, sua misericórdia e que se eu confiar em Sua palavra, confiar na promessa que Ele fez a mim, se eu nunca desistir e pedir com fé, Ele virá em meu socorro como veio em todos os dias de JMJ.
Jamais me esquecerei do momento em que vi Kiko Agüello pela primeira vez, a 5 metros de mim, acenado a todos os cantos do Riocentro, tão louco e tão feliz por estar ali quanto eu. Jamais me esquecer do "Eu venho reunir" em espanhol - só Deus sabe o quanto eu esperei por isto!!! Jamais me esquecerei do momento em que ele anunciou os brasileiros e que nós gritamos: "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!". Jamais me esquecerei do momento da entrada da Virgem e da minha promessa. Jamais me esquecerei no arrepio que percorre a espinha quanto pedem um minuto de silêncio antes do chamado. Jamais me esquecerei deste dia!! Espero que Deus me conceda a graça de vê-lo novamente pois se depender de mim, enquanto este homem viver eu escutarei sua voz. Kiko, obrigada pela bagunça boa que você fez em mim, por ter me mostrado o quanto eu sou amada por Deus e por este encontro maravilhoso! Nós vemos em Cracóvia, na Polônia!!
Na volta, encontramos os chilenos e espanhóis que vieram para São José e novamente Tambaú. Fiquei realmente feliz de tê-los encontrado em meio a 100 mil pessoas e triste por não ter conseguido rever alguns amigos brasileiros de longe! Aos amigos-irmãos, saudosos, continuo cheia de saudade de vocês! Gostaria de abraçar cada um e rir de tudo que aconteceu conosco na JMJ (historias polêmicas e engraçadas acontecem por todo lado mesmo!) Mas agradeço a Deus por ter criado a internet e diminuído um pouquinho a saudade e a distância!! Amo vocês e vejo-os antes da Polônia, se Deus quiser!!!
Era hora de dizer adeus ao Rio de Janeiro, entrar no ônibus, subir a serra e voltar para o meu interior - que por sinal também recebeu de braços abertos. Complicações da viagem à parte, chegamos bem, cheios de memórias na bagagem.
Porém, quando chegamos, a Jornada ainda não havia terminado. Mais um final de semana abençoado estava por vir.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sirene de ambulância.

Há uma coisa que me faz tremer na base: barulho de ambulância. Tal sonido desperta em mim um misto de medo e irritabilidade extremamente singular. Odeio-o.
Por azar, moro no começo de uma rodovia de acesso às rodovias grandes, ou seja, palco de acidentes seguidos de ambulâncias em série. Não há sequer uma semana no mês que passamos sem acidentes e barulhos estridentes. E mais, em qualquer lugar da casa o barulho é notável e mesmo a alguns quilômetros de distância ainda é possível ouvi-lo.
Ouço-o e desconcentro-me instantaneamente de tudo que estava fazendo. Me sistema de fuga-luta me avisa na hora que é para correr que alguma catástrofe aconteceu. Quero notícias rápidas. O que aconteceu? Houve mortes? Quem estava lá?
Me agustia não saber em primeira mão do acontecido e se há amigos feridos. Sinto necessidade de ir lá e ajudar a resgatar. Mas não posso, tenho medo de sangue, desmaiaria se visse alguém sangrando. Tenho que sentar e esperar. Fico olhando da janela da sala pra ver se a ambulância volta e tentar ver pela janelinha o que se passa lá dentro.
Tenho aflição de quando ela volta com a sirene desligada. Se isso acontecer, está tudo consumado. Não há esperança ou massagem cardíaca que traga de volta à vida o ferido. E não há nada que possamos fazer.
O meu medo e irritação por sirenes de ambulâncias é justamente esse: não poder fazer nada. Não estava no acidente, não vi o ferido, não liguei para a emergência e não vou poder ajudar a resgatar. Tenho apenas que ficar em casa esperando por notícias, rezando para que não tenha feridos ou que a catastrófe não tenha sido grande demais.
Mas não me contento em olhar e esperar, tenho síndrome de "Maria Capitolina". Quero sempre fazer algo, me mexer e tentar ajudar. Porém, às vezes eu quero ajudar mais aos outros do que a mim mesma, o que acaba sempre em problemas tão graves quanto o acidente em si.
Não há como escaparmos de catástrofes e não há como prevê-las (pelo menos, em sua maioria). Tudo que podemos realmente fazer é rezar para que Deus tenha piedade de nós e que nos deixe viver um pouco mair.  Há acidentes todos os dias, a diferença é que nem sempre há barulhos estridentes para nos avisar que algo aconteceu. Só espero que a próxima ferida não seja eu e caso for, que o resgate venha rápido.

sábado, 21 de setembro de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte VIII

O encontro com Kiko Arguello-Parte 1

Partimos cedo. Nos disseram que da Ilha do Governador até o Rio Centro - local do encontro - seriam três horas de ônibus. Por sorte, nosso motorista conseguiu cortar caminho por uma favela; chegamos em menos de uma hora, antes dos portões serem abertos. Fomos uns dos primeiros a entrar e conseguimos lugar de honra: cerca de 5 metros do palco, dava pra ver tudo com muita nitidez. Deus nos havia dado aquele presente.
Mas, como bons caipiras do interior, entramos do lado errado do Rio Centro e estávamos no local destinado aos estrangeiros. Como o local lotou (esperavam 40 mil; vieram 100 mil catecúmenos), pediram que os brasileiros gentilmente cedessem seus lugares aos estrangeiros e a bem da verdade a maior parte obedeceu, mas nós, astutos, abaixamos as nossas bandeiras e ficamos petulantemente ali, fingindo que não havia uma bandeira do Brasil na nossa camiseta e que não falávamos português (essa parte foi realmente engraçada). Sei que o Caminho nos cobra fortemente a obediência, mas não me levem à mal,  nós já tínhamos passado por muitos perrengues e estávamos muito perto do palco; ver o Kiko de perto era realizar um sonho, em, talvez, uma oportunidade única.
Desobedecemos o padre. Ficamos sentados no chão do Rio Centro exatamente do começo ao fim; eu, pelo menos, resisti à tudo pois não queria perder nenhum segundinho ao lado do meu amado. Serviram-nos um kit lanche/almoço que foi simplesmente tudo de bom!! Nunca gostei tanto de comer pão com presunto e mussarela e maça de sobremesa! Esperávamos ansiosamente.
Kiko Argüello é um jovem de 74 anos que em 1964 iniciou o "Caminho Neocatecumenal" pelas favelas de Madri, junto de Carmen Hernández e Padre Mario Pezzi. O Caminho Neocatecumental é a chamada "nova evangelização" que busca intensamente viver o batismo, a experiência concreta de ser cristão. Sou suspeita para falar do Caminho, amo-o. Nasci, cresci e amadurei em meio ao catecumenato e ali dentro aprendi valores como o amor, o respeito e, sobretudo, a obediência. O Caminho me fez ser alguém melhor, menos fútil, menos materialista e mais firme nas minhas decisões. Somos constantemente cobrados acerca daquilo que aprendemos, às vezes repreendidos, mas não tenho a menor dúvida que tudo vale à pena, pois o Caminho cada vez mais se mostra maravilhoso a mim. Na Jornada ficou muito claro que se eu não tivesse tido essa educação rígida (que permanece) e se eu não estivesse dentro da Igreja  - sobretudo dentro do Caminho - eu com certeza estaria perdida, sem rumo. O Neocatecumenal me mostrou qual era o caminho certo, me mostrou a minha vocação, me deu amigos incríveis e uma família sensacional. Eu certamente descreveria um monólogo sobre a minha história e amor pelo Caminho Neocatecumenal, farei-o em outra ocasião pois hoje tentarei deter-me no dia 30/07/2013.
Kiko saudou-nos exatamente às três da tarde, conforme estava escrito no roteiro. Esperávamos por ele desde às 10 da manhã; foi com grande euforia que o recebemos. Assim como o Papa Francisco, Kiko Argüello veio simples, trajando sua costumeira roupa de itinerante: a calça social e o suéter preto, indiferente ao calor que fazia no Rio Centro, e trazendo, apenas, seu violão, já bem surrado pelos anos de evangelização. Nada nesse mundo paga a alegria e emoção de ver o sorriso daquele homem. Ele acenava por todos os cantos, procurava olhar nos olhos e nas bandeiras de cada um ali presente.
Kiko agradeceu a acolhida, agradeceu ao Brasil, ao Rio de Janeiro e a Dom Orani - nosso conterrâneo idealizador da JMJ. Em seguida, como de praxe dentro do Caminho, apresentou todos que estavam presentes ali: ele chamava os países e estes se levantavam e gritavam, mostrando presença e suas respectivas bandeiras (tradição catecúmena). Era arrepiante ver que estavam presente, realmente, catecúmenos de todas as nações, desde aquelas em que o Caminho é maioria - Itália e Espanha - até aquelas onde os cristãos são a minoria - como na China e no Oriente Médio. Sim, temos catecúmenos nas China e em países árabes!! Que orgulho saber que somos muitos e estamos por toda parte!! Que alegria ver todos os irmãos catando a uma só voz os mesmos cânticos, vivendo o mesmo ideal de vida e professando a mesma fé, em qualquer idioma. A alegria de dias como estes de Jornada Mundial da Juventude é indescritível, não consigo por em palavras o que eu sentia ali. Fui contagiada pela alegria que emanava de jovens tão loucos quanto eu, tão sedentos por uma palavra quanto eu e tão orgulhosos quanto eu de fazerem parte do Caminho.
Era tudo contagiante. Para finalizar, Kiko chamou os brasileiros e, claro, a festa foi gigante: ao somo de "eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" o Rio Centro inteiro mais o pessoal que acompanhava lá fora pelos telões se levantou, agitou bandeiras, gritou muito, pulou, dançou..e não só nós brasileiros, mas todas as nações se levantaram e gritaram junto com a gente. Enchia o peito de emoção.. e os olhos de lágrimas. Impossível que tenha uma só pessoa que naquele momento não sentiu um orgulho gigante de ser brasileiro!! Somos contagiantes por essência, somos receptivos, fazemos festa com tudo!! Me alegro e me orgulho muito de ter feito parte daquele momento, nunca me emocionei tanto ao agitar a bandeira do meu país.
Kiko também se emocionou e agradeceu novamente a calorosa recepção. Em seguida, ensinou-nos o canto novo, o canto que ele havia preparado para a Jornada Mundial da Juventude do Brasil e, como ele mesmo disse "quando vocês ouvirem esse canto em suas comunidades, se lembrarão para sempre desse momento, é o canto que marca a JMJ do Brasil". Nosso canto é o "Ressurese", lindo e brilhantemente orquestrado; foi um canto feito para emocionar! O canto diz que "Cristo ressuscitou, Cristo vive" e esta passagem foi muito forte nessa peregrinação! Cristo esteve presente ao nosso lado em todos os momentos, nos ajudando a cada dificuldade! Confesso que dentre os cantos feitos para peregrinações há outros mais bonitos e com mais história, mas o nosso é verdadeiramente a cara do Brasil: simples, alto e emocionante. Não há nenhum outro canto no Caminho que tenha ganho uma orquestra tão bem trabalhada como este!
Nações e canto apresentados, o encontro propriamente começou com a entrada e benção de Dom Orani, Arcebispo do Rio de Janeiro e natural de São José do Rio Pardo, a minha cidade. Kiko ia constantemente à estante, cantava, falava e gesticulava por todos os lados. Todos os cantos me emocionaram muito e até aqueles que eu não gostava tanto passei a olhar com mais atenção. Diga-se de passagem que ele não apenas cantava, mas dava uma mini catequese sobre cada canto, explicando-os desde a sua origem. Confirmei minha suspeita: não há nada no Caminho que não tenha um forte significado.
Me emocionei logo no canto de entrada: "Yo vengo a reunir" é o canto-símbolo das peregrinações, eu estava tão ansiosa para ouvir que cantei junto em portunhol mesmo, era lindo de qualquer jeito!!! Realmente, todos que se dispuseram a ir viram a glória de Deus, e bem de perto. A tradicional invocação do Espírito Santo antes das celebrações catecúmenas foi feita à capela, por 100 mil pessoas.. tentem imaginar a emoção e a altura que foi isso!! 100 mil pessoas cantando, verdadeiramente, à uma só voz!! Deus havia nos presenteado com momentos inesquecíveis naquele dia.
Em seguida, pra mim, foi um dos grandes momentos da JMJ: a entrada de Nossa Senhora da Penha (uma imagem lindíssima!!) ao som de "Um grande sinal" - o canto da Jornada de Sidney, em 2008, na Austrália. Foi um momento tão grande quanto a passagem do Papa para mim pois havia ouvido a mini catequese da minha mãe sobre a entrada de Nossa Senhora nos encontros catecúmenos (essa é uma das vantagens de ser filha de catequistas!) e lembrei instantaneamente de tudo que ela havia me dito dias antes de viajar. Minha mãe sabe das coisas e disse que era para eu  ão me esquecer de pedir alguma coisa à Virgem, que qualquer cosia que eu pedisse naquele momento ela me atenderia. Hoje tenho total certeza que ela cuida do meu pedido e vai realizá-lo quando for a hora certa. Foi o único momento na JMJ em que algumas de minhas lágrimas cairam; enxuguei-as rapidamente pois aquele era um momento de alegria. Maria entrava, me trazia conforto e enchia o meu coração do carinho de uma Mãe que estava presente para interceder por seus filhos. Aprendi que Maria é a maior advogada que temos e que intercederá para que o melhor nos aconteça.

sábado, 7 de setembro de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte VII

O presente chamado Renata.

Saímos  de Copacabana por volta das 11:30 da manhã. Estava no momento da comunhão; não comungamos naquele dia pois era preciso juntar a turma e partir. Nossos catequistas tinham medo também e prezavam pelo bem da maioria. Ou íamos embora naquela hora ou só conseguiríamos sair de Copacabana à noite, o que seria perigoso, afinal de contas, não se brinca na noite carioca. Confesso que recebi a notícia com grande pesar, por mim eu passaria, sim, o dia ali com o que havia sobrado do Kit Vigília e veria todas as apresentações ao final da missa, queria aproveitar cada segundo da minha JMJ. Porém, quando se está em um grupo grande e sobretudo se esse grupo for catecúmeno, deve-se obediência aos seus catequistas. Na Jornada não tinha dessa de metade vai e metade fica, ou era todo mundo ou não era ninguém - foi assim o tempo todo, não nos desgrudamos por um segundo. Teve momentos em que renunciar a própria vontade pela vontade dos superiores ou da maioria doía, ainda mais pra mim, mas era necessário e era preciso, também, fazê-lo sem murmurar.
Por sorte conseguimos encontrar o metrô funcionando e evitar mais uma grande caminhada. Foi a primeira vez que andei de metrô na minha vida e confesso que foi muito muito muito louco!! Encontramos no metrô um grupo de chilenos, não dava para saber se era o mesmo que esteve em São José durante os preparativos da Jornada, mas sei que entoavam o já famoso hino "Chi, Chi, chi.. Le, Le, Le.. Viva Chile!!", O metrô tremia ao som dos chilenos. A cidade do Rio de Janeiro certamente nunca havia visto nada igual e certamente não se esquecerá de momentos como esse.
Um metrô, um ônibus e uma pequena caminhada e estávamos novamente na Ilha do Governador, no alojamento da Paróquia que nos recebia. Primeira providência quando chegamos: tomar banho, afinal de contas já fazia dois dias que não fazíamos isso e era de extrema urgência. Para nossa surpresa, nosso voluntário avisou-nos que não haveria banho para todos pois a água estava acabando e, além de nós, estavam alojados também outros grupos de peregrinos. Era inacreditável que depois de tudo que estava acontecendo na minha vida eu teria outra provação. Acho que Deus estava me testando mesmo.
Depois da indignação chegou a hora de decidirmos o que fazer. Não hesitamos: saímos em busca de casas perto da paróquia que nos cedesse um chuveiro. Nos negaram na primeira, mas na segunda, uma casinha simples entre os prédios da Ilha, estava disposta a nos acolher. Conhecemos a Renata, o anjo que Deus havia preparado para nós naquela Jornada.
A Renata é uma mulher extremamente simpática e carinhosa, que não teve o menor medo de acolher peregrinas que ela sequer conhecia. E por obra do destino, Deus nos enviou a uma família que não frequentava a paróquia porém, com muito mais disposição do que os paroquianos. A Renata fez o que minha mãe faria por mim: nos deixou tomar banho (estávamos em 5), fez um bolo de chocolate - maravilhoso - e nos chamou para passarmos a noite ali, dadas as histórias que contamos.
Eu me senti verdadeiramente em casa; tinha cama, comida, minha irmã de sangue e minhas irmãs de fé e pessoas maravilhosas que Deus havia me enviado. A Renata tem uma filha linda, a Duda, que muito me lembrou de mim mesma em seus gestos e ações. Jantamos pizza, vimos o Papa na tv, pude usar finalmente a internet e deixar um recado aos meus conterrâneos.
Foi uma das melhores noites da minha vida. Sem luxos, sem maquiagem, sem cabelo escovado e sem Louboutin. Mas, eu tinha tudo junto de mim: o amor de Deus, a sua misericórdia para comigo que, mesmo pecadora, Ele não deixou de estar ao meu lado e me mostrar, mais uma vez, que quando confiamos em Sua palavra o melhor nos irá acontecer.
Me alegro muito por ter conhecido a Renata e toda a sua família: o Diego, a Duda e a Milena que passava um dias lá. Foram realmente anjos. Nem sei mais como agradecer por tudo que fizeram por nós naquela noite!! Jamais me esquecerei da acolhida, simples e especial!! Espero vê-los novamente em breve. Que Deus sempre os abençoe.
Dormimos bem, comemos bem e agrademos à Deus e à Renata por aquela acolhida. Foi difícil ir embora dali, mesmo com todos os problemas que tivemos no alojamento, Deus havia nos cumulado de bençãos e alegrias. Partimos cedo para o Rio Centro, onde nos encontraríamos com Kiko Argüello, Carmem e Padre Mário, os inciadores do Caminho Neocatecumenal, juntamente a 100 mil catecúmenos tão loucos quanto eu.

sábado, 31 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte VI

"Eis que eu os envio"

Depois daquela ida ao banheiro consegui que meus cochilos durassem mais que 10 minutos. Deus havia me aquecido e me dado ânimo novo. N[os estávamos usando nossas capas de chuva; não chovia, mas disseram que isolavam do frio. Isolava pouco a bem da verdade, mas usávamos tudo que podíamos. Mas noite, enfim, terminou. Acordei com o dia amanhecendo; estava azul e aquele seria um dia lindo. Nós fixamos na grade de isolamento exatamente as 6:40 da manhã pois queríamos garantir um bom lugar para a próxima passagem do Papa Francisco que aconteceria exatamente às 10 da manhã. Os paraguaios dormiam ali e nós ficamos entre os sacos de dormir deles disputando cada pedacinho. Depois daquela noite, nada poderia dar errado.
Foram mais de três horas em pé na grade espremida por paraguaios que gritavam o tempo todo. Nesse meio de tempo conhecemos um sargento do Rio Grande do Sul que foi muito simpático com a gente e nos contou detalhes de sua profissão e explicou porque haveriam militares e voluntários fazendo cordão de isolamento naquela manhã. Confesso que não gostei do excesso de segurança pois colocaram a grade um pouco mais para trás e eu queria muito conseguir tirar uma foto nítida do Papa. Mas regras são regras e sei que os voluntários ralaram muito para que nada de errado acontecesse.
Eis que Francisco novamente veio junto de nós, pontualmente às 10 da manhã, no seu papa móvel sem vidros, na sua alegria contagiante e nos seus acenos eloquentes. Gritei muito e vi o Papa olhando e acenando novamente para mim. Me senti abençoada. Coloquei minha vida em suas mãos, para que ele intercedesse junto ao Pai pela minha vida e pelo meu futuro. Tenho certeza que ele ouviu minhas preces e está cuidando para que o melhor aconteça em minha vida. Tenho total convicção disso pois hoje tenho certeza que quando a gente pede muito e pede de verdade, com todas as nossas forças e com todo o nosso coração e tem fé que vai dar certo, não tem jeito de dar errado. Mesmo quando a gente acha que não vai aguentar, que a cruz é pesada demais e que vai morrer de fome ou de frio, Deus vem em nosso socorro e nos mostra o seu amor por nós. Ele conduz a minha vida e tenho certeza que não preciso de regente melhor. Deus me mostrou fortemente o seu amor e misericórdia por mim nessa Jornada Mundial da Juventude. É bem a velha das peregrinações: a gente sofre e vive de perrengue, mas no final Deus nos surpreende.
E olha que ainda havia muita coisa para acontecer depois da passagem do Papa.
Não consegui uma foto nítida pois estava emocionada e a cabeça de uma voluntária infelizmente era mais alta do que eu. Mas sem problemas, fotos do Papa estão espalhadas pela internet. A sensação do "estar lá" de que tanto ouvi falar antes de ir, realmente é a maior verdade. Não adianta a gente ouvir as histórias dos amigos que já foram, não adianta a gente ler tudo que puder sobre a JMJ; o que vale é estar lá e viver tudo isso, sentir na pele o sofrimento e a emoção. Não há nada que se compare ao momento de ver o Papa passando na sua frente e te abençoando e é justamente por esse momento que disse, ali mesmo no Rio de Janeiro: "estarei na próxima Jornada Mundial da Juventude".
Não chorei quando o Papa passou, gritei muito e meu coração pulsava forte. Aliás, os paraguaios que estavam atrás de mim também. Era uma festa de várias nações. Durante todo o trajeto do papa móvel se cantava "esta é a juventude do Papa!". Estou com saudades disso.
A missa de envio começou pontualmente às 10:30 da manhã e a abertura foi o flash mob - o maior da história. Nesse momento estávamos indo perto de um telão e consegui acompanhar a coreografia; eu e as meninas ensaiamos o flahs mob antes de viajarmos mas na hora eu não lembrava de quase nada. Deu para enrolar e imitar bem os que sabiam dançar direitinho; confesso que foi até engraçado e que amei ter feito parte do maior flahs mob da história! Hoje estou apaixonada na música e danço em casa. Que alegria poder ter encontrado papa Francisco!!
Conseguimos um espacinho para acompanhar um pouco da missa pelo telão e quanto mais andávamos mais bandeiras diferentes eu via. Estava tudo lindo: a praia tomada, o sol quente e o céu e o mar azuis. E ah, que lindo o mar de Copacabana!!! Sei que sou suspeita para falar porque amo praia, mas a de Copacabana é realmente tudo o que a televisão fala!! É azulzinho, limpo, calmo!!!!!! Me joguei na água de roupa e tudo, afinal de contas eu não perderia aquela oportunidade nunca!! Reclamava de saudade do mar e Deus me deu uma chance de poder vê-lo durante a JMJ!! É revigorante estar de frente ao mar.
Dali das límpidas águas de Copacabana pude ouvir em alto e bom som a homília do Papa Francisco que dizia exatamente o seguinte "Não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho, a sua fé. Não tenham medo! Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa  frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: 'Eu estou com vocês todos os dias. E não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor". E aqui missão dada é missão cumprida!! Papa disse que é para não termos medo que Deus estaria conosco todos os dias de nossas vidas! Foi a palavra certa, no momento certo! Me senti muito mais tranquila ao ouvir isso pois senti, de novo, que Deus é o senhor da minha vida e que Ele a está conduzindo da melhor forma possível. Voltei da JMJ com isso na cabeça: sou enviada pelo Papa a anunciar o evangelho e não vou deixar que ele morra dentro de mim. Quero que todo mundo saiba o que eu senti e que tenha a oportunidade de ver o quanto Deus ama a cada um de nós. Ele nos ama como filhos, do jeito que somos e quer fazer uma história belíssima para todos nós, basta que deixemos, basta que sigamos os seus ensinamentos.
"E olhai que eu os envio como ovelhas entre lobos. Sedes prudentes como serpentes e simples como as pombas. Não leveis bolsas nem dinheiro, e acreditai que o reino está perto, Cristo ressuscitou e ele vem conosco, ele vem conosco!". Meu canto preferido da JMJ se cumpriu verdadeiramente.

domingo, 25 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte V

A madrugada fria da vigília.

O Santíssimo Sacramento ficaria exposto a noite toda no Palco de Copacabana em um belo ostensório, grande e dourado. O Papa deixou o Palco com a promessa de voltar no dia seguinte durante uma apresentação de dança. Ainda tiveram outra apresentações e um ensaio para o flash mob; não os vi pois precisava voltar para junto do grupo pois era tarde e a fome e o frio falavam mais alto.
Nós não tínhamos levado nada para passar a noite ali: não tínhamos comida, não tínhamos agasalhos suficientes, deixamos o saco de dormir e a lona no alojamento da paróquia e tão pouco tínhamos cobertas para nos aquecer. Contávamos apenas com a providência de Deus pois não tiraríamos os pés dali em hipótese alguma.
Mas Deus não nos abandonou em nenhum momento daquela noite. Os meninos conseguiram chegar a tempo de conseguir pegar kits vigília para todos e não tiveram problemas em pegar conduções na noite carioca. Isso significava que todos estavam bem e teríamos alimento para os dois dias. Para mim, que vivo morrendo de medo de ter uma crise de hipoglicemia, foi com grande alegria que recebi esta notícia; Deus havia nos providenciado uma caixa cheia de mantimentos.
Os telões haviam sido apagados e o frio começava a apertar; eu tinha apenas uma camiseta de manga comprida e uma blusa de frio fina; não estava preparada para a madrugada fria que viria. Aliás, nem eu nem o nosso grupo.
O cansaço era grande e acredito que não somente a mim; havia pessoas acampadas ali há alguns dias e sob frio mais intenso. Me disseram que na noite da vigília alguns optam por não dormir e virar a noite cantando e dançado; eis que a profecia se cumpriu. Havia um grupo de catecúmenos eslováquios perto de nós que cantava e dançava; havia um grupo de brasileiros que percorreu a praia inteira a noite toda cantando "se eu não durmo, você não dorme, Jesus ressuscitou". O corpo estava realmente exausto, mas a mente conseguia controla-lo e aguentar muito mais.
Eu não percorri a praia toda cantando e não entrei na roda dos catecúmenos eslováquios. Me limitei a ficar juntos dos meus irmãos e tentar dormir. Cochilei algumas vezes. A sirene da ambulância e o frio intenso não deixavam que os meus cochilos durassem mais que dez minutos. O frio era tanto que eu tremia, meus dentes rangiam involuntariamente; não tinha como controlar. Nós estávamos em umas 6 ou 7 meninas abraçadas e enroladas nas nossas bandeiras do Brasil (sim, o nacionalismo era geral!). No caso, eu e a minha irmã dividíamos a nossa bandeira; nós nunca havíamos ficados tão juntas como naquela noite. Uma bandeira nunca havia sido tão bom cobertor quanto antes. Nunca agradeci tanto a Deus por não estar sozinha.
A nossa sorte foi ter levado as sombrinhas que, além de nos proteger da chuva da caminhada, nos protegeram - pelo menos um pouco - do frio que fazia ali. Se você tentar imaginar a cena, tenho certeza que vai rir, mas na hora do sufoco vale tudo. Sorte também que tínhamos chegado tarde e a praia estava lotada pois se estivéssemos na praia não iríamos dar conta do frio. Sim, muita gente ao nosso lado passou mal por causa do frio mas, graças a Deus, ninguém do nosso grupo teve problemas.
Para mim um momento forte naquela noite foi por volta das 4 da manhã quando eu e umas amigas fomos procurar por um banheiro. Havia pouquíssimos banheiros na praia, os postos de atendimento tinham filas gigantescas e havia apenas dois banheiros químicos beeeem espaçados, com filas quilométricas. Não tinha condição de ficar ali, fomos tentar a sorte e pedir que os bares e hotéis nos deixassem entrar, de preferência sem cobrar nada. Nós conseguimos boates, na primeira nos cobraram 5 reais (absurdo, moço, somos peregrinos!) e na madrugada nos deixaram entrar sem pagar. Fiquei feliz de conseguir um banheiro, bem dizem as anedotas da internet que peregrino de verdade reconhece o valor de um banheiro!
Foi justamente na boate em que conseguimos entrar sem pagar que eu entendi o que estava acontecendo. Enquanto eu estava vivendo uma Jornada Mundial da Juventude havia pessoas que a ignoravam, que não conheciam o amor de Deus. Foi ali na fila do banheiro o momento em que mais rezei naquela madrugada: agradeci a Deus pela minha família, pela oportunidade de estar em uma família cristã e catecúmena que me mostrou o melhor lado, feliz por estar junto dos meus amigos e irmãos na fé. Não me importava em não ter luxos, em estar mal vestida, com os cabelos bagunçados, passando muito frio e andando na orla de Copacabana durante a madrugada procurando banheiro. Eu estava verdadeiramente em uma Jornada Mundial da Juventude e Deus havia confiado a mim - e a mais 4 milhões de jovens - a missão de ensinar o Rio de Janeiro a grandeza do amor de Deus. Rezei por aqueles que não conheciam a Deus e que Ele suscitasse naquelas pessoas o desejo de uma vida nova assim como suscitava em mim. Foi nesse momento em que a minha ficha caiu de verdade: às 4 da manhã na fila de um boate esperando pelo banheiro.
Eu tinha medo e Deus não me abandonou. Eu sentia frio mas ele me deu forças para aguentar. Ele me levou a uma boate cheia de gente que vivia tudo ao contrário do que eu vivia; ele me permitiu viver essas experiências para que eu crescesse e enxergasse que "a messe é grande e poucos são os operários" e eu me vi como operária, na minha fragilidade, no meu pecado, mas, ainda assim, operária da messe. E nunca havia me orgulhado tanto disso.
Minha catequista dizia na volta que à cada um Deus passa de um jeito: à Moisés passou em uma sarça ardente, à Elias numa brisa suave e à nós no frio de Copacabana. Não há comparação melhor que essa.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte IV

A primeira parte da vigília.

Depois de uma longa caminhada e de muitos sufoco, eis que o Papa Francisco havia passado diante dos meus olhos. A emoção de ver o Papa passando diante de mim é algo difícil de ser explicado, é um arrepio e um agitar de coração que eu nunca havia sentido igual. É único, é mágico! Espremer-me entre as pessoas para ver a sua rápida passagem foi para mim uma experiência de um filho que busca ardentemente ao pai, que quer vê-lo, quer tocá-lo, quer receber sua benção e sentir-se amado. O Papa Francisco passa realmente toda alegria e ternura de um pai que encontra seus filhos. Reitero, me senti abençoada e amada.
Foram 3 ou 4 segundos, o tempo exato dele olhar, abençoar e sorrir para mim.
Nós e os paraguaios ficamos ainda uma meia hora gritando o quase-hino da JMJ: "essa é a juventude do papa!". Nós todos, de todo cantinho do mundo, havíamos viajado muitas horas e sofrido um tanto para aquele momento! Era nada mais que surreal. Para completar, quando os seguranças vieram retirar as grades de isolamento, deixaram escapar que pela manhã o Papa passaria de novo! Foi nesse momento em que decidimos que dormiríamos ali mesmo, passaríamos fome e frio e ficaríamos plantados na grade até o Papa passar novamente. A vigília começava para nós.
Como estávamos longe do palco e não podíamos ter uma visão perfeita do telão mais próximo acampamos ali mesmo onde estávamos, na calçada em frente ao posto 2 de serviços gerais; não vi a vigília começar. Aquela, aliás, era a hora da janta. Tínhamos, apenas, o lanche que ganhamos no café da manhã que teria que durar até a tarde de domingo. Havia a possibilidade de pegarmos o kit vigília, uma caixa contendo alimentos que nos sustentariam até a tarde do domingo quando os tickets alimentação voltariam a funcionar. O único problema é que quando passamos pelo - único - ponto de retirada desses kits, ainda há 5 quilômetros de Copacabana, a fila era imensa e não podíamos perder todo aquele tempo pois a fila dava cerca de 5 voltas em uma avenida. Ao final da passagem do Papa, em momento de muita luz e inspiração, os meninos tiveram a em Copacabana para garantir nosso espaço na calçada.
Todos os homens foram buscar os kits e fizeram um esforço gigante para chegar no lugar a tempo e ainda carregar todos os kits de volta. Quem foi disse que foi uma verdadeira demonstração de solidariedade de todos. Eu fiquei na praia e minha tarefa era juntar, ou melhor, catar, todo papelão em bom estado que eu encontrasse pois essa seria a nossa cama naquela noite. No meio da tarefa eu e as meninas demos um jeito de assistir um pouco da vigília em um telão próximo de onde nós estávamos acampados. O que mais me chamou atenção nesse momento foi que as pessoas que estavam próximas aos telões e que provavelmente estavam acampadas na praia já há alguns dias, nos concederam passagem e ofereceram o seu pedacinho de lona para que nós, que não tínhamos absolutamente nada, pudéssemos nos sentar ali e também acompanhar a vigília. Eu não conhecia ninguém e só sabia de onde eram pelas bandeiras que carregavam, mas eu sabia de uma coisa: eramos todos irmãos em Cristo. Não havia disputa por melhores lugares, não havia xingamentos, egoísmo e não havia distinção de raça, nacionalidade ou dinheiro. Todos faziam seus esforços para que o outro também estivesse bem, que pudesse ver a vigília e que tivesse o que comer.
Eu, que sou extremamente egoísta com as minhas coisas, nunca havia passado por um experiência tão forte e concreta do chamado "abrir mão". Abrir mão da minha cama quentinha, da minha comida pronta na mesa, do meu banho quente e demorado, do meu banheiro limpo, do meu conforto, da minha individualidade, da minha vontade pela vontade geral e abrir mão do meu egoísmo. Deus realmente queria me mostrar que ser altruísta ainda é o melhor caminho e que existem, ainda, pessoas dispostas à isso! Me surpreendi ao ver a solidariedade e o amor de Deus imperando entre os peregrinos.
Voltando à vigília, consegui um lugar privilegiado em frente a um telão e ali pude ver grande parte dos acontecimentos daquela noite. Tive a graça de poder ver a linda oração do Papa Francisco, as apresentações de música e teatro em que amei ter visto Luan Santana cantando a oração de São Francisco e a apresentação de uma cantora norte-americana em uma musica emocionante chamada "Jesus Christ, you are my life" que aprendi a cantar nessa JMJ. Mas, o ápice da primeira parte da vigília foi a exposição do Santíssimo, um momento em que todos na praia ficaram em silêncio e de joelhos enquanto o Papa cingia o corpo de Cristo com incenso e, assim como nós, rezava.
Coloquei diante de Deus as minhas orações. Tenho certeza que Ele as ouviu.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte III

O sofrido e abençoado primeiro contato com Papa Francisco

Caminhamos muito para chegar a Copacabana. Enfrentamos frio, chuva, sol, calor, fome e sede. Depois de 6 ou 7 horas nessas condições, o cansaço pesou e estava difícil continuar. Alguns de nós já não estavam bem; precisávamos parar.
Achamos uma única churrascaria em Botafogo, há uns 2 ou 3 quilômetros da praia. Não foi o melhor churrasco da minha vida e o preço não estava incluído no orçamento peregrino, mas foi bom parar e finalmente, depois de dois dias, comer comida de verdade.
A comida reanimou; confesso que também estava cansada e ansiosa para chegar logo. Me parecia que quanto mais caminhávamos mais distantes ficávamos de tudo: distantes da vida que deixamos em nossa cidade, distantes dos problemas que encontramos na hospedagem e distantes, até mesmo, do que considerávamos como um limite. Eu não conseguia parar e pensar que eu estava vivendo tudo aquilo. Era cada vez mais surreal.
Outro grande momento da peregrinação (para mim, o primeiro dos três eventos mais emocionantes) foi o que aconteceu nos túneis de acesso a Copacabana. Estávamos na reta final e só precisávamos atravessar três túneis pequenos e virar uma esquina que já estaríamos lá. Me repudiou a ideia de estar dentro de um túnel no Rio de Janeiro mas, perante o meu medo e cansaço, Deus me proporcionou um momento único. Encontramos um grupo de peregrinos catecúmenos dos Estados Unidos e outro grupo de catecúmenos da Argentina e eles puxavam um canto chamado "Cântico de Moisés", uma adaptação do canto que os hebreus cantaram logo após terem atravessado o Mar Vermelho. Só cantamos este cântico na páscoa para lembrar o sofrimento que os hebreus passaram e, mesmo assim, deram graças a Deus. O canto diz que "minha força e meu canto é o Senhor, Ele é meu salvador, é meu Deus, eu o celebrarei"; da mesma forma que Deus os libertou da escravidão do Egito, Ele, aos poucos, nos libertava das nossas escravidões diárias e mostrava a todo momento a sua bondade conosco, não deixando que nos faltasse nada e nos reservando momentos únicos.
Foi emocionante porque dentro de um túnel o som se abafa e engrandece, emocionante porque cantamos em três línguas que professavam uma só fé; o gigante tremia ao som de vozes que buscavam em Cristo suas forças. O som dos quatro atabaques deixava tudo mais arrepiante ainda e, acreditem, se tem barulho, tem catecúmeno! Enquanto andávamos ali, encontrei ânimo novo e coragem. Era preciso renovar as energias pois o melhor ainda estaria por vir.
Nos haviam dito que só poderíamos chegar em Copacabana até as 17 horas porque depois desse horário os voluntários começariam a fechar as ruas de acesso para preparar para a chegada do Papa Francisco. Saímos da churrascaria às 16:50; teríamos, literalmente, que correr contra o relógio. Imagine a agonia de um grupo que caminhou um dia inteiro em busca de um objetivo e que este corria o risco de não ser realizado; nós entraríamos naquela praia a todo e qualquer custo, furaríamos qualquer bloqueio e chegaríamos o mais perto possível. Para nós, ali, não existia a possibilidade de não dar certo.
Deus, mais uma vez, mostrou sua infinita misericórdia e bondade. Conseguimos que um grupo de voluntário nos deixasse furar a segurança na segunda rua de acesso. Além de termos conseguido, estaríamos relativamente perto do palco. A praia estava completamente tomada por jovens peregrinos, em todas as direções, de todas as nacionalidades. Era realmente lindo presenciar aquilo.
Nos infiltramos no meio do povo até que conseguimos um lugar perfeito. Deus providenciou tudo aquilo à nós! Estávamos à cerca de meio metro da grade e naquele dia não havia seguranças e cordão de isolamento. O Papa estaria a, no máximo, um metro de mim. Inacreditável. Era 18:10 quando nos fixamos naquele lugar. O Papa viria às 19.
Foram 50 minutos de muita expectativa e oração. Eu esperei tanto por aquilo. Aliás, não somente eu mas 4 milhões de jovens aguardavam ansiosamente por aquele momento. Eis que Francisco veio: simples, sem milhares de seguranças, sorridente e quase saindo do papa móvel para abençoar a cada um de nós que estavam ali.
Foi naquele rápido momento em que o Papa, a figura de Jesus Cristo, esteve na minha frente e fez o sinal da cruz, me senti amada e abençoada; coloquei toda a minha vida nas mãos daquele homem, eu sabia que ele estava abençoando toda a minha vida e todas as orações que estavam guardadas em meu coração. Nós, ali, espremidos nas grades, gritávamos, em coro: "esta é a juventude do Papa". Sem medo, sem vergonha, em qualquer língua, emocionados, agitados, felizes.
Eis-me aqui, faça-se em mim segundo a Sua palavra.
Somos parte da maioria.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte II

As provações.

Não conseguimos ir para Copacabana na Via Sacra na sexta, estávamos muito longe e completamente perdidos no tempo e no espaço. Depois de alojados e jantados, foi a hora do banho. Já era noite e o sol que tínhamos pegado durante o dia já tinha ido embora. No alojamento não tínhamos muitos banheiro e estávamos em muitas pessoas. A nossa sorte e agonia foi ter conhecido um voluntário muito gentil que conseguiu convencer o padre da paróquia a nos deixar usar o banheiro da casa paroquial. Fiquei super feliz por não termos que encarar a fila e os banheiros já bem usado do alojamento. Minha felicidade culminou em banho gelado.
Após uma noite de viagem  e um dia tenso não foi difícil dormir naquela noite. Dormir no saco de dormir não é algo agradável, não é confortável e não faz bem para a coluna. Eu nem me importei com isso; dei graças a Deus por ter um lugar para estendê-lo e agradeci infinitamente à minha mãe por me ter feito levar um cobertor de casal.
A noite, afinal, terminou bem e quando o sol raiou eu senti que aquele seria o dia! Era sábado, o dia de finalmente ver o Papa Francisco!! Era o dia que começaria a vigília e eu estava feliz por isso. Pegamos outro kit, rezamos laudes no fundo na Igreja e exatamente às 9 da manhã partimos em direção à Copacabana. E nesse "partir" foi que realmente caiu a minha ficha que eu estava no Rio de Janeiro! Ficamos cerca de uma hora esperando um dos -apenas- três ônibus da linha peregrino que não estivesse extremamente lotado! E nesse meio tempo, cansados de esperar, a nossa turma se dividiu em grupos para tentar outras formas de transporte. Depois e uma hora, conseguimos que um ônibus parasse, lotado, mas entramos. Demoramos 40 minutos até a Central, onde supostamente pegaríamos um metrô. Quando chegamos o metrô já havia parado; teríamos que caminhar até Copacabana. Eu não tinha noção do quão longe era.
A questão dos transportes foi uma completa falta de respeito ao peregrino. Só podíamos pegar a linha peregrina, que contavam apenas com 3 ônibus que passavam espaçadamente e lotados. As vans de transporte interno do Rio, dessas que mostram nas novelas, era um meio rápido (apesar de caro!) de transporte pois sempre vinham vazias mas, infelizmente, o governo do Rio proibiu essas vans de circular próxima aos locais frequentados por peregrinos. Os metrôs eram menos caóticos e mais organizados, porém funcionavam até um certo tempo, até a lotação ou até o meio dia, quando nossos cartões de transporte não passavam mais. Isso sem falar que quando conseguíamos ter a graça de conseguir pegar um ônibus ou metrô eles já estavam cheios. Não sei como um ônibus conseguia transportar cerca de 150 pessoas em uma única viagem!
As ruas do Rio estavam tomadas de peregrinos. Às vezes chovia, outras aparecia o Sol; a caminhada foi longa, teve clima para todos os gostos. Caminhamos cantando, dançando, fazendo amizades. Às vezes com frio, com calor, com fome, cansados. À todo canto da cidade maravilhosa proclamava-se que Cristo é o Senhor da vida de milhões e milhões de jovens. E mais, proclamava-se em todos os idiomas, de todos os movimentos, de várias religiões. O meu cansaço não me dominou justamente por isso: eu não estava sozinha. Dentro de mim e de todos que estavam ali sofrendo com os 17 quilômetros, havia a certeza de que tudo ia valer à pena e a alegria que sentíamos era muito maior do quer tudo o que ainda pudesse acontecer.

sábado, 3 de agosto de 2013

Diário de expedição: Jornada Mundial da Juventude - parte I

A Jornada Mundial da Juventude terminou oficialmente amanhã pra mim. Amanhã, sim, pois me despedirei da última turma de italianos que passará por minha cidade. Da 'Semana Missionária' até hoje, foram exatamente três semanas inteiramente dedicadas à Jornada. A preparação, conforme já dito muito neste blog, foi verdadeiramente de corpo e alma. A Jornada, em si, uma série de sofrimentos seguidos por doces alegrias. A acolhida dos chilenos, espanhóis e italianos foi realmente Cristo passando por essa cidade.
Quantos momentos únicos essa JMJ me proporcionou! Quantas revelações, quantas alegrias! É preciso registrar tudo, cada detalhe, descrever tudo pois quero me lembrar dessas 3 semanas com muita precisão. Farei uma série de textos contando a minha experiência na JMJ. Lá vai..

Os primeiros choques.

Era um começo de noite de sexta feira quando partimos para o Rio de Janeiro. Estava muito frio e o céu nublado. A mala, pequena, só levava itens de extrema necessidade; não podíamos nos dar ao luxo de levar metade do guarda-roupa, nem as melhores coisas que temos. O espírito de peregrinação começou aqui, foi difícil ver o tempo esfriando cada vez mais e eu com duas blusas de frio na mala.
Na saída, como de praxe, recebemos um benção no meio da rua de nossa Paróquia Santuário de São Roque, pedindo que o senhor acompanhasse a nossa viagem. O que foi fora do costume foi a carreata que nossos pais e amigos que aqui ficaram fizeram à nós! Percorreram todo o trajeto até a saída da cidade com as luzes ligadas e com as buzinas funcionando.A carreata foi a primeira emoção da viagem. Eu sentia que cada vez que as buzinas tocavam era o toque de apoio, saudade e desejo de estar junto que os nossos irmãos rio-pardenses mandavam. Obrigada por todo o apoio que nos deram, por todas as pizzas e rifas que compraram e venderam para que nós pudéssemos juntar dinheiro para ir! Todos estiveram em nossos pensamentos o tempo todo.
A viagem de 10 horas foi turbulenta. O ônibus era como uma sanfona, me estômago reclamava e a estrada nunca tinha fim. Foi difícil dormir essa noite.
Chegamos ao Rio de Janeiro por volta das 6 da manhã com o sol nascendo. Ver a cidade maravilhosa acordando foi lindo. O sol nascia numa mistura de amarelo com rosa tão linda, nunca tinha visto coisa igual! Por sorte, nosso motorista se perdeu e fomos parar no centro do Rio de Janeiro!! Graças à isso, conseguimos ver e fotografar as belas paisagens do Rio ao nascer do Sol! Inesquecível, incrível, único!
Ficamos duas horas perdidos no Rio de Janeiro até chegarmos na Ilha do Governador, nosso local de catequese e hospedagem. A "Ilha" nos reservou grandes surpresas, boas e ruins, e, para completar, a vista era da ponte Rio-Niterói com seus 17 quilômetros de garbo e elegância!
Descemos cantando, o espírito era de peregrinação. Foi nesse momento que tivemos o primeiro contato com o "Kit Peregrino". Os lanches do kit eram muito bons! (à exceção da salada de atum em conserva e da batata de saquinho da vigilia que me proporcionaram a pior azia de todos os tempos). O único problema da comida foi comer torrada com polenginho + barrinha de cereal todos os dias.Nesta manhã ainda tivemos catequese com um bispo do Alasca seguida de eucaristia.
Depois da eucaristia, o pesadelo começou. Na hora de chamar as pessoas para serem acolhidas nas casas nosso nome não estava em nenhuma lista e não permitiam que ficássemos alojados no salão da Paróquia "São José Operário". Não tivemos almoço e o dilema perdurou até as 4 horas da tarde quando colocamos as malas dentro do salão contra a vontade da organização.
O salão era pequeno e não estava nas melhores condições de limpeza. Não tinham banheiros, estrutura e sala para acomodar todos os peregrinos que tiveram que ficaram alojados. Tentavam a todo custo nos tirar dali com mil e uma desculpas. Não aceitamos e o preço a pagar doeu.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Às portas da JMJ

O tema parece infinito e o coração de quem vos escreve aqui está transbordando. Estou cheia de palavras, emoções, ansiedade e medos para esta Jornada Mundial da Juventude que se aproxima. Falta, agora, exatamente uma semana. Dentro de mais sete longos dias estarei em solo carioca onde eu e mais milhões de jovens do mundo todo estaremos reunidos pelo mesmo motivo: Jesus Cristo.
Vou pois estou sedenta disso: ouvir o que Deus tem à me dizer; Ele diz através de outras pessoas, de cantos, de leituras e dos momentos de sacrifício. Uma vez ouvi de um dos meus catequistas preferidos que "Deus é acontecimento", ou seja, Deus se manifesta nas nossas vidas através do que que acontece; nos momentos difíceis é Ele quem nos dá força para poder suportar e nos momentos alegres nos dá a certeza de que só estamos felizes porque confiamos na sua palavra.
Nessa JMJ não faltarão acontecimentos. Passar fome, sede, calor, frio, enfrentar horas de caminhada, chuva, sono, dor de todos os tipos e no final receber a palavra de que tanto procurávamos. Isto é ser peregrino. A farra que fazemos é fruto disto. 
A alegria em Cristo não é passageira! Estou sedenta por ouvir minha palavra de consolo, ânimo e coragem. Estou sedenta por conhecer meus irmãos de fé, estrangeiros e brasileiros, filhos da mesma fé, que entoam o mesmo cântico, em qualquer língua.
Deus abre, também, o  meu coração nesta JMJ. Já sinto os ares dela pairando na minha cidade e, sobretudo, na minha vida. A revolução começou e o meu coração se enche de uma esperança que nunca tive. É tempo de viver. Chegou a hora. Quero estar lá. Estou com o coração e com a mente prontos. Pode vir, JMJ, há um coração esperando ansiosamente por ti.

O encontro com Jesus Cristo vos permitirá apreciar interiormente a alegria da sua presença viva e vivificante, para testemunhá-la depois no vosso ambiente. Quando encontramos Jesus e acolhemos o seu Evangelho, a vida muda e somos impelidos a comunicar aos outros a experiência própria. Papa Bento XVI

Uma pequena nota por Marô Dornellas:
"porque minha força e o meu canto é o Senhor, ele é meu salvador!"

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Eu sou a maré viva.

Há momentos em que os astros se alinham e o resultado disso são as chamadas "marés vivas", que aumentam a atividade dos peixes e o volume das ondas. São os melhores dias para pescar e os piores para os banhistas. O mar fica agitado e alto, com ondas abundantes e impacientes, querendo arrastar tudo o que vê pela frente.
Quando a maré está assim, os guarda-vidas colocam várias daquelas plaquinhas de "perigo, não nada aqui" e ficam o dia inteiro chamando a atenção dos banhistas e apitando para que nenhum incidente grave aconteça.
Mas, se você for astuto, nenhuma plaquinha ou nenhum guarda-vida sarado vai te impedir de nadar contra a corrente. A escolha final é sempre sua mas saiba de antemão que se algo grave acontecer a culpa é inteiramente sua. O risco de afogamento e os índices deste são grandes. Não adianta saber nadar pois a maré é mais forte que você e lá, no meio do mar, não vai ter ninguém para te salvar.
Não se pode prever a quantidade de peixes que esta maré trará, tão pouco a força de suas ondas. Não há aparelhos capazes de medir e não dá para perceber com precisão quando elas vão chegar. É um tiro no escuro. Colocar seu barco ou nadar ao encontro da maré depende do quanto você é capaz de aguentar tudo de bom ou de ruim que te pode acontecer. Não há um manual pronto para te dizer o que fazer a cada instante; é um completo improviso, sem direito à ensaios.

Eu sou a maré viva e se você entrar, vai se afogar. Pense bem, posso te arrastar para o mais profundo de mim e se isso acontecer não poderá mais voltar a superfície. Eu sou a maré decisiva, posso te salvar ou te colocar em apuros. Ser pescador ou nadar contra a corrente depende de você; saiba previamente dos riscos, não diga que eu não avisei.

Uma pequena nota por Marô Dornellas:
Síndrome de Maria Capitolina.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Automedicação

Uma das coisas de que eu mais gosto de fazer é assistir seriados de medicina, especialmente Grey's Anatomy; é a minha diversão. Mas, na vida real, detesto em ir médicos. Não gosto da coisa de ter que ficar o dia inteiro no consultório esperando a hora em que o médico poderá atender; as revistas da sala de espera sempre são velhas e isso me agonia pois tenho a sensação de estar revivendo todos os meus erros na sala de espera para depois confessá-los lá dentro. Ir em otorrinolaringologista é a morte para mim, tenho trauma de infância. Odeio exames, tenho medo de agulhas e não gosto da escuridão dos corredores do - único - hospital desta cidade. Ir em médicos ou hospital, para mim, é coisa rara.
Quando estou doente me automedico sem medo. Se é gripe/laringite/dor de cabeça já tenho a minha coleção própria de medicamentos. Afinal de contas, não há nada que um dorflex não resolva! Se nada disso der certo, tem a farmácia do centro da cidade, sempre dão remédios certeiros; são quase santos tamanhos são os milagres que já fizeram em mim. Quando a situação piora consulto o Google, sempre me fornecendo santos remédios, inclusive receitas caseiras realmente muito boas. Não há nada que o Google não cure.
Conselhos como "vá ao médico", "faça exames", "tome o antibiótico na hora certa" nunca funcionam para mim. Sou desatenta e cabeça dura. Tenho necessidade de fazer tudo do meu jeito, eu faço a regra. Preciso chegar ao meu limite para encarar o problema de frente e marcar uma consulta. Não sei prevenir; sempre espero a doença chegar arrebatadora para querer resolvê-la.
O único problema de tomar sempre os mesmos remédios é que eles vão perdendo o efeito graduadamente e você vai precisar de doses cada vez mais forte deles.Quando isso acontece, me sinto uma usurpadora inconsequente, que não cumpriu a prescrição e agora precisa apelar para a solução final: ir ao médico. Me sinto deteriorada, tenho que admitir que errei e mais um remédio não poderei usar.

Doutor, hoje abro mão dos meus costumes, quero uma consulta com urgência pois a doença está grave e o remédio não faz mais efeito. Não prometo voltar daqui a três meses e não sei se farei o tratamento correto. Marque uma consulta, esperarei o dia inteiro se preciso. Preciso que descubras o quanto a doença evoluiu e se ainda é possível tratá-la ou curá-la; desta vez não tenho medo do diagnóstico. Apenas prometo que irei me esforçar.

Uma pequena nota por Marô Dornellas:
Grey's Anatomy está de férias e só volta em Setembro. Estou com saudade; aguentem, então, as metáforas até lá.