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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um feixe de contradições.

Por favor, pode dizer exatamente o que é um feixe de contradições? O que significa contradição? Como tantas palavras, pode ser interpretada de dois modos: uma contradição imposta de fora e uma contradição imposta de dentro. A primeira significa não aceitar as opiniões dos outros, sempre saber mais, ter a última palavra; resumindo, todas aquelas características desagradáveis pelas quais são conhecidas. A segunda, pela qual não sou conhecida, é meu segredo.
Como já disse muitas vezes, sou partida em duas. Um lado contém minha exuberância, minha petulância, minha alegria na vida e, acima de tudo, minha capacidade de apreciar o lado mais leve das coisas. Com isso quero dizer que não acho nada errado nos flertes, num beijo, num abraço, numa piada pesada. Este meu lado costuma ficar à espreita para emboscar o outro, que é mais puro, mais profundo e melhor. Ninguém conhece o lado melhor de Maria Olívia, e é por isso que muita gente não me suporta. Ah, eu posso ser uma palhaça divertida durante uma tarde, mas depois disso todo mundo se enche de mim durante um mês. Na verdade sou aquilo que um filme romântico representa para um pensador profundo - uma simples diversão, um interlúdio cômico, algo a ser esquecido: que não é ruim, mas que também não é particularmente bom. Odeio ter de admitir isso, mas porque eu não deveria admitir, já que conheço a verdade? Meu lado mais leve, mais superficial vai sempre tirar vantagem do lado mais profundo, e com isso vencerá sempre. Você não pode imaginar quantas vezes tentei empurrar para longe essa Maria Olívia, que é somente a metade do que se conhece com Maria Olívia - derrubá-la, escondê-la. Mas isso não funciona, e sei porquê.
Tenho medo de que as pessoas que me conhecem descubram que tenho outro lado, um lado melhor e mais bonito. Tenho medo de que zombem de mim, de que pensem que sou ridícula e sentimental, e que não me levem à sério. Estou acostumada a não ser levada a sério, mas somente a Maria Olívia leviana consegue lidar com isso; a Maria Olívia mais profunda é fraca demais. Se eu forçar a Maria Olívia boa ao palco por pelo menos quinze minutos, ela se fecha como um marisco no momento em que é chamada a falar, e deixa a Maria Olívia número um dizer o texto. Antes que eu perceba, ela desapareceu.
Assim, a Maria Olívia boa nunca é vista acompanhada. Ela nunca aparece, ainda que quase sempre assuma o palco quando estou sozinha. Sei exatamente como gostaria de ser, como sou... por dentro. Mas infelizmente só sou assim comigo mesma. E talvez seja por isso - não, tenho certeza de que este é o motivo - que penso em mim como uma pessoa feliz por dentro, e os outros pensam que sou feliz por fora. Sou guiada pela Maria Olívia pura, de dentro, mas por fora sou apenas uma cabrita fazendo cabriolas, forçando a corda à qual está amarrada.
Como já disse, o que falo não é o que sinto, e por isso tenho a reputação de assanhada, de sabichona e leitora de romances de amor. A Maria Olívia jovial gargalha, dá uma resposta ferina, encolhe os ombros e finge que nem liga. A Maria Olívia quieta reage de modo oposto. Se estou sendo completamente honesta, tenho de admitir que isso me importa, que tento arduamente mudar, mas me vejo sempre diante de um inimigo mais poderoso.
Uma voz dentro de mim soluça: "Veja só, foi isso que você virou. Está rodeada por opiniões negativas, olhares desanimados e rostos zombeteiros, pessoas que não gostam de você, e tudo porque não escuta o conselho de sua metade melhor." Acredite, eu gostaria de escutar, mas não dá certo, porque se eu ficar quieta e séria, todo mundo acha que estou representando outro papel e tenho de me salvar com uma piada, e nem estou falando de minha própria família, que presume que devo estar doente, me enche de aspirina e sedativos, sente meu pescoço e minha testa para ver se estou com febre, pergunta sobre os movimentos intestinais e me critica por estar mal-humorada, até que eu não aguento mais, porque quando todo mundo começa a me chatear, fico irritada, e depois triste, a parte má do lado de fora e a boa do lado de dentro, e tento achar um modo de me transformar no que gostaria de ser e no que poderia ser se... se não houvesse mais ninguém no mundo.

Foi o que disse Anne Frank no dia 1º de Agosto de 1944, três dias antes de sua morte. Se aplica inteiramente à mim, por isso copiei-o aqui com as devidas modificações, trocando Anne por Maria Olívia. E, com toda a certeza, foi o melhor texto explicativo sobre a minha pessoa.

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